sexta-feira, 19 de janeiro de 2024

Pitaquinho Musical - Green Day (Saviors)

Aparentemente o tempo de espera por um bom álbum do Green Day acabou. Ascensão da extrema direita, pandemia, guerras, os Estados Unidos ainda recolhendo os cacos do trumpismo (que é capaz de retornar) e cá estamos, celebrando uma banda que crescemos escutando - e que seguimos admirando, após 35 anos de existência. Especialmente por eles não terem simplesmente virado os tiozões do churrasco (ou do barbecue), que passam seus domingos entre idas à missa e a encontros no clube de tiro, enquanto tergivesam sobre os Estados Unidos não serem mais os mesmos do passado. Ok, pode não haver tanta novidade assim em termos de sonoridade em Saviors - o décimo quarto disco da carreira longeva -, mas o caso é que o frescor vem de outras partes. Das letras debochadas, dos riffs bem encaixados, dos refrões grudentos. Isso já rolava em Dookie (1994)? Que bom, porque estávamos com saudades desse punk pop acelerado, com musiquinhas de três minutos, que conseguem ao mesmo tempo acenar para os anos 90, sem deixar de ser atual.

Tomemos como exemplo o ótimo single de abertura The American Dream Is Killing Me. Com título autoexplicativo, Bille Joe e companhia parecem atualizar os temas de American Idiot em um hino roqueiro que debocha do estilo de vida americano, com referências à crise imobiliária e às teorias conspiratórias que invadem o zap do conservador médio. O expediente provocativo se repete em ótimas músicas como Look Ma, No Brains! (Não sei muito sobre história / Porque nunca aprendi a ler), em 1981 (Deus, abençoe o fim dos tempos / Dor, comunistas e cocaína) e na grudenta Strange Days Are Here to Stay (Estamos no inferno? Ou isso é apenas uma fantasia?). Quando fala de sua experiência pessoal, o vocalista também vai fundo e acerta em cheio, como no caso do single Dilemma, que traz uma profunda reflexão sobre seus dias de rehab e de luta contra o vício - tudo embalado em uma melodia energizante, que remete aos melhores momentos do começo da carreira. É legal ter o Green Day "de volta". Com a qualidade que parece vir com a maturidade, tudo fica ainda melhor.

Nota: 8,0


2 comentários:

  1. Massa! Sem contar que eles prometeram tocar o Dookie (fazendo 30 anos) e o American Idiot (20) na íntegra na turnê do Saviors... Vi um show do Dookie em dezembro e parece o disco tocando! Afiados como nunca.

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