terça-feira, 16 de janeiro de 2024

Cinema - Os Rejeitados (The Holdovers)

De: Alexander Payne. Com Paul Giamatti, Da'Vine Joy Randolph e Dominic Sessa. Comédia / Drama, EUA, 2023, 133 minutos.

Muito tem se dito sobre como Os Rejeitados (The Holdovers) é um filme sobre a solidão. Mas a meu ver, para além de uma análise sobre a nossa eterna busca por algum tipo de conexão com outras pessoas, a obra parece ser também sobre as nossas inseguranças. E sobre como lidamos com elas. Qual é o momento, afinal, que nos sentimos à vontade para falar sobre nossas fraquezas? Nossos temores? Todos temos nossos medos e muitas vezes eles ficam bem guardados - ainda mais para minorias, pessoas vulneráveis, desajustados. Na trama conduzida por Alexander Payne - aliás, se há um diretor talhado para esse tipo de produção que vai no íntimo de suas personagens para eviscerar suas dores, é ele - voltamos para dezembro de 1970, em um internato da região da Nova Inglaterra. O clima é de véspera de férias e de preparação para as festas de final de ano, onde o severo professor de História Antiga Paul Hunham (Paul Giamatti) é recrutado para permanecer no campus, atuando como supervisor de alunos impossibilitados de irem para a casa durante o recesso.

Os motivos para a permanência dos jovens no educandário são os mais variados - indo desde o menino que é filho de imigrantes coreanos que estão a uma distância geográfica considerável, passando pelo rapaz cujos pais estão em uma espécie de missão no Paraguai, até chegar ao caso de Angus Tully (Dominic Sessa), um adolescente meio rebelde mas bastante inteligente, como comprovam suas notas em um boletim entregue ainda no começo do filme. Só que o caso é que Angus não vai com a cara de Paul. Aliás, ele não parece ir com a cara de ninguém - como perceberemos na rivalidade declarada à Teddy Kountze (Brady Hepner). Angus está animado para as férias e ele sequer sonha com a hipótese de ficar naquele espaço isolado (e congelado), com colegas e um professor que ele abomina com todas as suas forças. Só que uma ligação de última hora o fará perceber que os planos mudaram: sua mãe está indo para uma Lua de Mel tardia e recomenda que seu filho fique no local até a volta das férias.

Claro que esse contexto será a deixa para a já tradicional história sobre figuras com personalidades distintas que, no limite, não parecem ter algo em comum - mas que precisarão se aproximar, e até unir forças, em meio a circunstâncias adversas. Ao professor e aos cinco alunos, se junta ainda Mary Lamb (a ótima Da'Vine Joy Randolph, que tem vencido todos os prêmios da temporada e surge como uma das favotiras na categoria Atriz Coadjuvante para o Oscar), a cozinheira da escola, uma mulher preta, acima do peso e que está de luto por ter perdido seu jovem filho adolescente. E será nesse contexto cheio de adversidades - de neve sem fim, de solidão excruciante, de programas de televisão pouco atrativos e de entretenimento nulo -, que todos ali se aproximarão. Especialmente Angus, Paul e Mary que, mais adiante e perto da noite de Natal, se verão realmente sozinhos no colégio.

Com atuações impressionantes do trio central - Giamatti também surge como nome forte pro Oscar e ele sabe entregar esse homem comum, misantropo e niilista como ninguém -, temos aqui a jornada típica de superação, que consegue ser engraçada, reflexiva e comovente (às vezes até na mesma sequência). Em certa altura, Paul descobre por exemplo quais os segredos que envolvem a complexa relação de Angus com seu pai. Para mais adiante, o jovem se dar conta de que seu tutor talvez não tenha conseguido ser tão bem sucedido não apenas em termos de carreira acadêmica, mas também em sua vida pessoal - fosse por conta de sua total inabilidade social, que se soma ao estrabismo e a uma doença incurável que o faz suar o tempo todo, deixando-o ainda com mau cheiro. E todos esses instantes de vulnerabilidade surgirão, aqui e ali, de forma bastante orgânica, coesa, com cada uma das personagens desabando e revelando suas inseguranças, justamente ao se sentirem mais conectadas entre si. Fugindo dos estereótipos, essa é aquela obra que aquece o coração e que mostra pessoas imperfeitas, buscando qualquer fiapo que possa às unir. O que faz com que nos identifiquemos de pronto.

Nota: 8,0


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