segunda-feira, 22 de janeiro de 2024

Novidades em Streaming - How to Have Sex

De: Molly Manning Walker. Com Mia McKenna-Bruce, Lara Peake e Enva Lewis. Drama, Grécia / Reino Unido, 2023, 91 minutos.

Quando chegam à ilha grega de Malía para passar as férias de verão, Tara (Mia McKenna-Bruce), Em (Enva Lewis) e Skye (Lara Peake) são pura empolgação juvenil. Do alto dos seus cerca de dezessete anos, estão no local só pelas festas, pela bebedeira, pela azaração. Pelos encontros e desencontros típicos da idade - e enquanto assistia a How to Have Sex, a magnética estreia em longas da diretora Molly Manning Walker, me perguntava onde essa trama ia desembocar. Tara, especialmente, chega ao lugar como uma jovem iluminada, que parece bem no meio da transição entre certa infantilidade destemida - ela se agarra as demais, brinca o tempo todo, gargalha - e a necessidade urgente de chegar à vida adulta. Com uma espécie de barreira que parece demarcar esse limite entre um ponto e outro, no caso o fato de, entre as três amigas, ser a única que ainda não transou (ainda que o conceito de virgindade, nos dias de hoje, pareça ser bem mais amplo do que a mera penetração em si).

E mesmo que se divirta muito com as demais amigas, é interessante notar como essa pressão angustia Tara. O que fará com que, aos poucos, e no decorrer daqueles dias insuportavelmente agitados de verão, seu brilho vá se apagando. Tara é uma garota absolutamente linda - ou ao menos atende certo padrão, naquilo que se estabelece como belo nessa sociedade de aparências acima de tudo. E ela deveria ter, ao menos em tese, total tranquilidade para decidir como, quando, onde e por quê deveria se relacionar (ou transar) com quem quer que fosse. Só que não é o que acontece - e a meu ver é isso que torna esse projeto, que venceu a mostra Um Certo Olhar no mais recente Festival de Cannes - tão especial. No final da adolescência, ao cabo, parece que precisamos fazer tudo para ontem sendo que temos toda a vida ainda pela frente. E, imaturos, talvez sejamos incapazes de perceber as coisas que nos rodeiam de uma forma mais ampla, mais crítica e fazendo valer as nossas vontades que vão para além dos papeis previamente "escritos" (ainda mais para as mulheres, diante de todas as violências que sofrem o tempo todo).

Nesse sentido, não deixa de ser interessante notar como Tara, aparentemente, vai cansando de tudo aquilo. Daquele ambiente que, não demorará, se apresentará inóspito para uma menina tão jovem, tão pequena e pressionada pelas incertezas que misturam baixa autoestima, com necessidade permanente de validação. Aos poucos a carga vai ficando pesada, as bebedeiras parecem perder o sentido em meio a vômitos, mal estar generalizado e sentimento de solidão - com tudo piorando quando a protagonista sofre uma violência grotesca que, geração a geração, parece se perpetuar uma sociedade machista, misógina e invariavelmente estúpida. O que não deixa de ser uma espécie de paradoxo, uma vez que jovens que se vendem como quebradores de regras, que bebem, se drogam e praticam sexo mais livremente do que nunca, parecem incapazes de se livrar de práticas que, ao cabo, não deveriam ser repetidas. Ainda mais sem consentimento.

De estilo frenético e claustrofóbico o filme discute, em apenas noventa minutos, um sem fim de temas que assolam a juventude - de sensação (e necessidade) de pertencimento, passando por responsabilidade afetiva, aceitação, hipervalorização do sexo, aparências, sororidade, conceitos de masculinidade e relacionamentos abusivos (sendo importante veículo de identificação dessas ocorrências). Pouco antes de efetivar sua primeira transa com um esquisito qualquer - um gurizinho com a autoestima na lua -, Tara afirma não estar à vontade, por estarem na praia, com areia por toda a parte. Ao que o jovem responde com um "não seja estranha" - já que forçar a barra na orla deve ser, em sua visão deturpada, algo entre o romântico e o safado. Em alguns momentos a obra, que está disponível na Mubi, pode soar incômoda, não apenas pela temática em si, mas pelo frenesi constante, que nos leva do riso à reflexão em segundos. Mas essa é uma experiência bastante sensorial também sobre rupturas. E sobre quando percebemos o aumento de nossa capacidade em tomar decisões, deixando para trás inclusive certas amizades (se assim for necessário).

Nota: 8,5


2 comentários:

  1. Bah, não curti... Achei raso em tudo, e bobinho, apesar da importância da pauta.

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    1. Realmente parece ser um filme meio divisivo, primo. Vi que, realmente, teve muitos que não curtiram. Um efeito que rolou também com o recente Saltburn.

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