De: George Clooney. Com Tye Sheridan, Ben Affleck, Daniel Ranieri, Christopher Lloyd, Lily Rabe e Sondra James. Drama, EUA, 2021, 106 minutos.
Na nossa existência é possível afirmar que existem duas "universidades". A real, pra quem tem a oportunidade, é aquela dos bancos do ensino superior, com anos e anos de aquisição de experiências acadêmicas com colegas e professores. A outra é a da vida, que envolve a bagagem que carregamos, os aprendizados, as frustrações, as conquistas. O que o simpático filme Bar Loce Lar (The Tender Bar), mais uma daquelas obras sobre amadurecimento, nos mostra, é uma mescla dessas duas realidades, que servirão para formar a personalidade do jovem JR (vivido por Tye Sheridan na fase adulta). Abandonado pelo pai - um locutor de rádio hedonista e com apreço pelo comportamento autodestrutivo (papel de Max Martini) - JR vai morar com os seus avós e com outros parentes, após a sua mãe (Lily Rabe) enfrentar graves problemas financeiros. Sim, ninguém ficará muito feliz com essa rotina mas, é nesse contexto, que um JR ainda criança (Daniel Ranieri) se aproximará do carismático tio Charlie (Ben Affleck).
Em linhas gerais o que George Clooney faz aqui a partir do texto autobiográfico de JR Moehringer, além de recuperar um pouco a mão depois do apenas razoável O Céu da Meia-Noite (2020), é o feel good movie por excelência. Não há nada que não tenhamos visto anteriormente nesse sentido, já que estão lá a família disfuncional (e numerosa), a necessidade de superar uma série de obstáculos, as pequenas experiências que significam muito, o panorama cultural de uma época (no caso o meio dos anos 70) que dialoga com a história. As decepções. As descobertas. As Incertezas. As voltas por cima. E, nesse sentido, o que torna a experiência com Bar Doce Lar encantadora é o fato de nos importarmos um tanto com aqueles que acompanhamos - sensação bem diferente daquela gerada pelo desastroso Era Uma Vez Um Sonho (2020), que utiliza mais ou menos as mesmas ideias (e estrutura), mas com uma coleção de personagens absurdamente irritante, pra não dizer desprezível.
Indo e vindo no tempo, a obra utiliza seus saltos temporais de forma orgânica, intercalando momentos de JR já na faculdade - como estudante de Direito e aspirante a escritor -, com momentos de sua juventude, especialmente no simpático bar The Dickens, mantido pelo tio Charlie. É nesse local convidativo - sim, o nome homenageia o escritor Charles Dickens -, que o pequeno JR conhecerá uma coleção de frequentadores do local que, a sua maneira, "apadrinharão" o jovem, lhe entregando desde pílulas de conhecimento de boteco, até doses inesperadas de chope gelado. E, mesmo sendo um sujeito de personalidade complexa, Charlie funcionará como uma espécie de tutor involuntário do menino, auxiliando em sua criação e estimulando-o para a importância da leitura - e, nesse sentido, não é por acaso que muitas das interações mais emocionantes da obra envolverão o rapaz e o seu tio (como é o caso do instante em que eles recebem a carta da Universidade de Yale, que lhe oferecerá uma bolsa de ensino).
Com uma fluidez narrativa pacata, uma fotografia em tons pasteis que ajudam a criar o clima setentista e uma trilha sonora de nomes como The Isley Brothers, Devo, The Grass Roots, Chic, Steely Dan, Paul Simon e Malcolm McLaren, esse é aquele tipo de filme ideal para ser assistido de maneira despretensiosa num sábado preguiçoso. Não vai mudar o mundo. Não será inesquecível, provavelmente. Mas nos fará rir e se emocionar - e as participações de Christopher Lloyd (sim, o doutor de De Volta Para o Futuro) e Sondra James (em seu último papel) como os avós de JR também são parte disso. É aquela experiência carinhosa, que pega a complexidade da vida e a esmiúça, gerando identificação imediata com o público. Pode parecer pequeno diante da grandiosidade de outras obras. Mas já é o suficiente para valer a pena.
Nota: 7,5
Nenhum comentário:
Postar um comentário