terça-feira, 25 de janeiro de 2022

Novidades em Streaming - A Lenda do Cavaleiro Verde (The Green Knight)

De: David Lowery. Com Dev Patel, Alicia Vikander, Barry Keoghan, Sean Harris e Joel Edgerton. Drama / Fantasia, Canadá / EUA / Irlanda / Reino Unido, 2021, 131 minutos.

A jornada do herói, mas que não é tão heroico assim. Talvez essa seja uma boa maneira de resumir aquilo que propõe a narrativa do envolvente A Lenda do Cavaleiro Verde (The Green Knight) - uma das novidades da semana na plataforma de streaming da Amazon. Dirigido por David Lowery, a partir de uma das tantas lendas que envolvem a Távola Redonda, o filme mantém o tipo de ambientação, de clima a até de velocidade de trabalhos anteriores do realizador, caso do magnífico Sombras da Vida (2018). Aqui, retornamos para os tempos da corte do Rei Arthur (Sean Harris), num contexto em que, às vésperas do Natal, o soberano se vê desafiado pelo Cavaleiro Verde do título - uma criatura em tons esmeralda, meio homem meio "floresta", que emula características da natureza e que parece possuir grande força. Na tentativa de salvar o reino, o irresponsável sobrinho de Arthur, um certo Sir Gawain (Dev Patel), se coloca à frente desse embate. Mas a dúvida que fica: ele terá capacidade para não sucumbir aos temores que envolvem tamanha responsabilidade?

O caso é que Gawain não passa de um sujeito comum, beberrão, frequentador de bordel, que parece cair meio que de paraquedas em uma assembleia do reinado. Inicialmente renegado pelo monarca, Gawain se vê, inesperadamente, nessa sinuca. Que subverterá a crença do cavaleiro medieval como aquela figura dotada de força descomunal, incapaz de falhar e que seguirá seu destino sem maiores abalos. Na busca por completar sua missão, Gawain se deparará com uma série de encontros e desencontros, que colocarão em xeque a sua capacidade de superar dificuldades. Como exemplo, será no meio de um descampado que o protagonista encontrará o solitário Scavenger (o sempre ótimo Barry Keoghan, que rouba a cena em O Sacrifício do Cervo Sagrado, de 2017), um rapaz que lhe arma uma emboscada, roubando seus pertences - entre eles o cavalo e a espada. Depois de quase morrer no meio do mato, Gawain prossegue em seu solitário desafio, encontrando fantasmas, gigantes e outras figuras mitológicas (ou não) em sua jornada.

Ainda que esteticamente irretocável - se o mundo fosse um lugar justo, o Desenho de Produção e a Fotografia seriam lembrados no Oscar -, vale mencionar que a obra talvez não agrade a todos os paladares (aliás, como é de praxe nos filmes produzidos pela A24). Pra começar trata-se de uma experiência que possui um desenvolvimento pouco apressado, que aposta em ângulos de câmera que se repetem, em meio a movimentos vagarosos e cheios de significados. Mesmo as informações vão sendo entregues em pequenas pílulas, o que nos deixa em dúvidas a respeito daquilo que Gawain encontrará pelo caminho. Afinal de contas, trata-se da realidade? Ele estaria sonhando? Estaria projetando uma existência alternativa? E mais, ele conseguirá não sucumbir aos dissabores de sua jornada? Se tornará o homem que se espera que ele se torne? Todos esses questionamentos nos ajudam a ir montando, aos poucos, o quebra-cabeças dessa história sobre amadurecimento, sobre dilemas morais e sobre como a nossa personalidade pode ser complexa.

Assim, veremos muito menos a espada "cantando" ou lutas super bem coreografadas, como costuma ocorrer no cinema de ação. Aqui a experiência é muito mais existencialista, com a aposta na completa desconstrução desse tipo de sujeito - que, sim, terá suas falhas, seus dilemas, suas incertezas. Peça central da narrativa, a mãe de Gawain, a Fada Morgana (Sarita Choudhury) parece contribuir para o caráter fantasioso dos eventos que acompanhamos, ao entregar ao seu filho uma espécie de amuleto da sorte mágico, que permite a ele compreender de forma mais ampla o fardo que carrega. E que ainda estabelece os conflitos religiosos da época, de forma mais evidente. Estilosa, onírica, sombria, essa é daquelas obras que ficam em nosso pensamento após os créditos subirem e que questionam o arquétipo do heroi, que se estende por gerações e que chega a atualidade como, ainda, uma grande influenciadora de atitudes. Enfim, o tipo de subversão, de ousadia, que torna a experiência ainda maior.

Nota: 8,5

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