De: Reinaldo Marcus Green. Com Will Smith, Jon Bernthall, Saniyya Sidney e Demi Singleton. Drama, EUA, 2021, 144 minutos.
Vamos combinar que já estava caindo de madura a ideia de fazer algum filme que, de alguma forma, resgatasse a história das irmãs Venus e Serena Williams. Com trinta títulos de grand slams somados, fora as tantas outras conquistas em quadras de grama, saibro ou piso, elas não apenas marcaram época por se tornarem as primeiras atletas negras a vencerem importantes competições de tênis: elas foram soberanas em um esporte muitas vezes praticado pelos ricos (normalmente em clubes frequentados por essa elite branca). E, de certa forma, o que o candidato ao Oscar King Richard: Criando Campeãs (King Richard) mostra, é como elas viriam a se tornar essas atletas de ponta - algo obtido com muita disciplina e com um planejamento daqueles de deixar aquele coach metido a empreendedor de queixo caído. E o responsável por tanta obstinação na carreira das jovens foi justamente o pai delas, Richard Williams (vivido por Will Smith, com toda aquela pinta de quem quer faturar a estatueta mais desejada do cinema).
Na realidade, é possível afirmar que o filme de Reinaldo Marcus Green é centrado muito mais na figura controversa e de personalidade forte que era Richard, do que nas garotas em si. É claro que o relacionamento com elas - as cobranças, os esforços pessoais, os medos do fracasso, as pequenas e grandes conquistas -, estão no centro da narrativa. Mas é a partir de sua própria história de dor, que o protagonista forjará as futuras jogadoras vitoriosas. Nesse sentido não são poucos os instantes em que Richard traz alguma lição de moral que deverá acertar em cheio os corações mais conservadores e adeptos da meritocracia - com direito até a cartazes que flertam com a autoajuda espalhados pelas quadras em que elas treinavam (que contavam com frases motivacionais ao estilo "se você falha em planejar, então você planeja falhar"). Sim, a ideia da superação de adversidades está em toda a parte. E servirá de combustível para os Williams.
Especialmente para Richard, claro, que empreende uma verdadeira via crúcis para conseguir um treinador para as jovens - que, até uma certa idade, eram treinadas por ele próprio, que acreditava no potencial e Venus (Saniyya Sidney) e Serena (Demi Singleton) antes mesmo de elas nascerem. Em certa altura um dos potenciais treinadores recusa o pedido de Richard - que havia rabiscado um elaborado plano de carreira de 78 páginas para as futuras atletas -, lembrando que seria difícil ter uma boa tenista saída de Compton, na Califórnia. Que dirá duas. "Seria como se houvesse dois Mozarts na mesma família", debocha. E, bom, a história prova que havia. Peregrinando de um lado a outro, o persistente pai chegará, inicialmente, no técnico Paul Cohen (Tony Goldwyn), desfazendo mais tarde a parceria, quando Richard se sentirá incomodado com os caminhos dados à carreira das jovens que, mais tarde, viriam a ser treinadas pelo excêntrico Rick Macci (Jon Bernthal, finalmente deixando de lado os papeis de sujeito durão que marcaram sua carreira).
Alternando instantes mais leves - e até engraçados -, como aquele em que Rick elabora uma estratégia que possa convencer Richard a deixar Venus jogar uma importante competição (o pai levava a ferro e fogo a ideia de cuidar da imagem das filhas, jamais expondo-as a eventuais excessos), com outros mais dramáticos e até tensos (o jogo com a espanhola Arantxa Sanchez, em 1994, é daqueles de deixar a plateia no sufoco), King Richard parece ser aquela obra que agradará os entusiastas de histórias mais diretas sobre superação de obstáculos. [MINI-SPOILER A PARTIR DE AGORA] Com mensagens importantes sobre humildade, união familiar, responsabilidade, decoro e disciplina, a obra ainda acerta em cheio ao optar por um final em que Venus é confrontada com uma dura e inesperada derrota, mas que deixará uma importante lição: a de que pequenas batalhas podem até ser perdidas. Mas as grandes vitórias virão nas principais disputas. E aqui não estamos falando, necessariamente, do tênis em si, e sim das questões de raça, de gênero e de representatividade como um todo. E em tempos duros como os que vivemos, estas conquistas devem ser celebradas sempre.
Nota: 7,5
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