De: James L. Brooks. Com Jack Nicholson, Helen Hunt, Greg Kinnear e Cuba Gooding Jr. Comédia / Drama / Romance, EUA, 1997, 139 minutos.
Pode soar apenas egocêntrico alguém elogiar alguém dizendo que começou a tomar pílulas que, talvez, essa mesma pessoa devesse estar tomando há meses. Talvez há anos. "Você faz com que eu queira ser uma pessoa melhor", completa Melvin em seguida. Sim, é um gesto pequeno, que parece pouco lógico. E Carol parece pronta para ir embora do restaurante em que ambos estão. Mas não demora para que tenhamos clareza de que, aos poucos, aquele sujeito tenebroso, de humor debochado e cheio de preconceitos está se esforçando. De alguma forma, ao assumir que está se medicando, ele admite estar disposto a enfrentar a doença que lhe aflige. Esse transtorno psiquiátrico que faz com que, entre outros ritos, ele chaveie e deschaveie a porta várias vezes, repita incessantes vezes a limpeza das mãos com sabonetes novos e seja incapaz de pisar em cima de linhas quando se desloca na rua. Aliás, o simples ato de caminhar pode representar um sofrimento para quem tem TOC. E Melvin, aqui e ali, está se empenhando em superar suas fobias. À sua maneira. Tentando ser alguém melhor.
Porque para o espectador desavisado desse filmaço de James L. Brooks não é fácil compreender Melvin, nem seus hábitos, sua estupidez rotunda, sua grosseria permanente. Percebê-lo como alguém doente é um desafio para quem assiste a obra e é quase irresistível encará-lo apenas como o velho chato, ranzinza, que implica não apenas com o vizinho gay Simon (Greg Kinnear), mas com o universo que o rodeia. Melvin é um misantropo impaciente. Que não aceita sentar em outra mesa que não seja a "sua" na cafeteria que frequenta - essa mesma em que Carol trabalha. E que testará a paciência de todos a sua volta até o limite. Até o momento em que ele vai desesperado ao psiquiatra que o enxota. Até o momento que ele aceita a sua condição e passa a se medicar. Até o momento em que ele passará a ajudar as pessoas que, de seu jeito meio esquisito, parece amar. Começando pela própria Carol, que possui um filho que precisa de maiores cuidados médicos. Passando pelo vizinho Simon, que sofre um inesperado e violento golpe. Até chegar mais adiante a outras pessoas.
Porque talvez o que muitas pessoas não percebam em Melhor É Impossível é que este é um filme sobre a superação de uma doença (ou ao menos é essa a leitura que faço). E em tempos como os que vivemos - de tantos transtornos (de ansiedade, de pânico, de depressão), a obra nunca me pareceu tão atual. Aliás, mais do que isso, parece estar adiantada em uma temática que dominaria a medicina no atual milênio, com dezenas de milhares de pessoas se esforçando para superar as suas dores, consumindo medicamentos que possam equilibrar as suas biologias e se empenhando em ser pessoas melhores. De quebra, o filme tem aquele DNA anos 90, com fotografia em tons pasteis, trilha sonora primaveril, desenho de produção meio kitsch e um cãozinho que é o mais puro carisma. Um combo que ajudaria a resultar em diversas indicações ao Oscar, rendendo estatuetas para Nicholson e Hunt por suas atuações. Tá disponível gratuitamente no Now e vale a pena revisitar.
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