quarta-feira, 11 de novembro de 2020

Cine Baú - Se Meu Apartamento Falasse (The Apartment)

DE: Billy Wilder. Com Jack Lemmon, Shirley McLaine e Fred MacMurray. Comédia dramática / Romance, EUA, 1960, 125 minutos.

Acho que um dos tantos predicados de Se Meu Apartamento Falasse (The Apartment), de Billy Wilder, é ter envelhecido muito bem. Por suas temáticas - adultério, suicídio, papel da mulher na sociedade e até a selvageria do mundo capitalista -, era uma obra a frente do seu tempo. Meio visionária até - inclusive pelo fato do protagonista C. C. Baxter (o sempre ótimo Jack Lemmon) ter praticamente "inventado" o conceito de Airbnb, que veríamos mais tarde. Sim, ele é o solteirão sem muita pressa pra arrumar um casamento, que está muito mais preocupado com a ascensão profissional na gigantesca companhia de seguros em que trabalha, em Nova York. Assim, como forma de incrementar renda e se aproximar mais do alto escalão da empresa, passa a emprestar o seu apartamento para que os seus colegas executivos possam manter os seus casos extraconjugais em "segurança". E sem atrair a atenção de ninguém. A contrapartida se dará futuramente, com possíveis promoções e outras evoluções na folha de pagamento.

Só que esse procedimento pode gerar alguns inconvenientes para Baxter que, em alguns casos, se vê impossibilitado de retornar para a sua casa no momento em que deseja. E, conforme os empréstimos vão se ampliando, a rede de interessados nos aluguéis aumenta - chegando a quatro, cinco executivos da companhia. E tudo piora quando ele se vê apaixonado por uma colega de trabalho, no caso a ascensorista Fran Kubelik (Shirley McLaine), que mantém um caso com o chefe de ambos, um certo Jeff Sheldrake (Fred MacMurray). E, como desgraça pouca é bobagem, Jeff pedirá o apartamento do protagonista emprestado, levará Fran para lá e... terminará com ela lá mesmo, já que ele é um sujeito casado. Desesperada, a jovem tentará tirar a própria vida tomando dúzias de medicamentos indutores de sono. E a tragédia só não se confirmará por causa da chegada de Baxter em sua própria casa, após uma festa na empresa. Aliás, numa sequência tão trágica quanto cômica, já que ele também tinha conseguido uma companhia para aquela noite.

Sim, descrevendo assim pode parecer meio confuso, mas Se Meu Apartamento Falasse é uma obra que funciona como uma montanha russa de emoções (e de estilos), começando como uma escrachada comédia, que migra para um pesado drama, até chegar a um desfecho romântico. Com tudo absurdamente bem conduzido por Wilder, que utiliza cada uma de suas sequências e diálogos, para ir fazendo pequenos comentários sociais a respeito do universo que acompanhamos. Os vizinhos de Baxter, por exemplo, acreditam que o sujeito é um hedonista de marca maior, apesar de ele dificilmente ter um comportamento indecente. Da mesma forma, o diretor não parece muito empenhado em amenizar a mesquinharia e o vazio que envolve as relações humanas, tão frágeis já naqueles tempos (e, aparentemente, piores nos dias de hoje). E tudo isso não nos impede de torcer com todas as forças por um final feliz, por piores que os ambiciosos Baxter e Fran possam ser - e, ao cabo, eles são apenas humanos, afinal. Cheios de qualidades e defeitos como qualquer um de nós.

Vencedora do Oscar de Melhor Filme na cerimônia de 1961, a obra-prima ainda premiaria Wilder (Roteiro e Direção), bem como a Edição e a Fotografia em Preto e Branco. Na lista do American Film Institute (AFI) de 2007, aparece em um honroso 80º lugar na relação de Melhores Filmes Estadunidenses, sendo também mencionada como a 20ª Melhor Comédia da História. Leve e divertido, o filme encanta não apenas pelos seus momentos engraçados (você nunca mais verá uma raquete de tênis da mesma forma), como por aqueles com maior profundidade - como nos deliciosos diálogos entre Baxter e Fran. Wilder já tinha uma carreira consagrada quando fez este filme - vinha de outros clássicos como Pacto de Sangue (1944), Farrapo Humano (1945), Crepúsculo dos Deuses (1950) e O Pecado Mora ao Lado (1955). E, de alguma forma, pode-se dizer que esta foi uma de suas últimas grandes obras e que segue sendo querida tanto pela crítica quanto pelo público.

Um comentário:

  1. Ótimo resumo do filme! Estou gostando deste Site! Parabéns!
    Me parece que o o fato ser um filme em preto e branco se ajusta melhor com a temática do filme!
    Se ele fosse colorido, parece-me que não seria tão gostoso de assistir!

    ResponderExcluir