sexta-feira, 22 de maio de 2020

Novidades no Now/VOD - Bons Meninos (Good Boys)

De: Gene Stupnitsky e Lee Eisenberg. Com Jacob Trembley, Brad Noon, Keith L. Williams, Will Forte e Millie Davis. Comédia / Aventura, EUA, 2019, 88 minutos.

Em uma cena decisiva de Bons Meninos (Good Boys), Thor (Brad Noon), desafia os seus amigos, todos na faixa dos 12 anos, durante uma festa: vai tomar quatro goles de cerveja. QUATRO! De uma só vez. Com isso vai tentar superar um apelido desagradável que o acompanha já há algum tempo, ao mesmo tempo em que tentará se tornar, momentaneamente, o "fodão". É esse tipo de instante meio bobo, quase caricato, que transforma a obra dos diretores estreantes Gene Stupnitsky e Lee Eisenberg em uma grata e divertida surpresa entre os filmes sobre (e para) pré-adolescentes. É na capacidade de saber rir de si mesmo, de não se levar tão a sério, que a obra nos ganha. Pra um adulto podem parecer estúpidos os quatro goles de cerveja. Mas e no universo cheio de inseguranças e de incertezas da juventude? Quem nunca passou por alguma situação na adolescência, em que precisava se autoafirmar para os demais, mesmo fazendo algo a contragosto?

Tudo bem, a gente sabe que filmes com esse tema não chegam a ser exatamente uma novidade - há por aí uma verdadeira coleção de obras sobre amadurecimento, sobre a inocência sendo deixada para trás em nome de uma transição para a vida adulta meio na marra, meio na força. Mas Bons Meninos é de uma leveza arrebatadora, que vai nos ganhando a cada piada inesperada, que mistura ainda doses cavalares de graça e nostalgia. E o elenco, com todo o seu carisma, também é culpado por isso. Jacob Trembley (visto nos imperdíveis O Quarto de Jack e Extraordinário) é Max, garoto que nutre uma paixão por Brixlee (Millie Davis) e que, ao lado do já citado Thor e de Lucas (Keith L. Williams) resolvem matar aula com a intenção de tentar consertar um drone quebrado que estava sendo usado para espionar a vizinhança e, bom... tudo acaba dando errado e é o motivo para que o trio enfrente uma série de desventuras, que envolverão de traficantes de drogas a policiais à paisana.


Como diferencial, o filme confere importância a todas as etapas vividas pelos jovens da faixa dos doze anos - como a da descoberta da sexualidade -, ao mesmo tempo em que, aqui e ali, discute temas como uso de drogas, separação, bullying e respeito às diferenças. Não há exatamente um assunto definido que sirva de fio condutor: conforme o dias dos meninos avança e eles parecem distantes do seu objetivo, a amizade entre eles se fortalece, ao mesmo tempo em que percebem aos poucos que uma etapa de suas vidas pode estar finalmente chegando ao fim. E isto porque, é nesse momento da vida que as diferenças de personalidade e as escolhas individuais começam finalmente a aparecer. Max, por exemplo, é aquele guri romântico, com perfil namorador. Já Thor sonha em ser cantor, mas, inicialmente, luta contra essa ideia (como admitir que gosta das artes?) Lucas, por fim, tem um senso de justiça muito grande, ao mesmo tempo em que enfrenta a dura realidade da separação de seus pais.

E mesmo temas mais "tabu" como fetiches sexuais e a prática da masturbação são tratados de forma mais desencanada e com senso de humor, como na parte em que o pai de Max percebe o que ele estava prestes a fazer dentro de seu quarto. Sobre o humor, ele é muito bem explorado na obra. De forma quase surpreendente. A trilha sonora subindo em certos instantes brinca com a "solenidade" daquilo que não é tão tão solene - como na cena dos quatro goles -, ao passo que ações como atravessar uma rodovia de carros movimentados se transforma em um dos maiores desafios do trio central. É tenso. É engraçado. É debochado. Assim como é debochada aquela parte em que um homem pergunta aos meninos se ele "parece um pedófilo", sendo que ele é o estereótipo desenhado de um perturbado sexual. O mesmo valendo para o segmento em que Thor argumenta com Lucas sobre ser o seu "melhor amigo". Inocente sem ser boboca, cheio de mensagens sem ser enfadonho, Bons Meninos é filme que faz bem em tempos de pandemia, nos fazendo rir e também chorar. Nesse caso, um choro bom.

Nota: 8,5

Nenhum comentário:

Postar um comentário