sexta-feira, 1 de maio de 2020

Novidades no Now/VOD - Má Educação (Bad Education)

De: Cory Finley. Com Hugh Jackman, Allison Janney, Geraldine Viswanathan, Ray Romano e Annaleigh Ashford. Comédia / Drama, EUA, 2020, 103 minutos.

Sobre o filme da HBO Má Educação (Bad Education), a brincadeira é que já temos um Todos os Homens do Presidente (1976) do jornalzinho da escola. Não tanto pela grandiosidade do episódio, mas pelo exercício de reportagem de excelência, que desmantela um grande esquema de corrupção envolvendo desvio de dinheiro público que deveria ser destinado a escolas, quase 20 anos atrás. Quem desvenda? Uma adolescente de 15 anos. No periódico feito por um Grêmio Estudantil de um educandário de Long Island. Uma história tão excentricamente improvável que, não fossem os letreiros, quase não acreditaríamos ser baseada em eventos reais. O filme começa com o superintendente distrital de um coletivo de escolas recebendo uma honraria pelo excelente trabalho realizado no desenvolvimento do ensino de uma região. O homem em questão é Frank Tassone (Hugh Jackman), figura excêntrica e sempre bem vestida, que vai no limite entre a sociopatia, a cordialidade e a eficiência na hora de imprimir sua metodologia de trabalho.

Num certo dia, Frank recebe uma visita da já citada jovem estudante de uma das escolas, que pretende fazer uma reportagem para o jornalzinho do colégio a respeito de um novo empreendimento que devera sair do papel, assim que houver aporte de recursos públicos - trata-se de uma passarela que pretende facilitar o deslocamento dos alunos. Incentivada pelo próprio Tassone a exercitar um tipo de jornalismo mais aprofundado, a garota - seu nome é Rachel (Geraldine Viswanathan) -, resolve investigar um pouco mais a fundo os projetos anteriores realizados nas escolas do distrito e como se deu a aplicação das verbas que, afinal, saíram dos impostos dos americanos. Ao mesmo tempo, Frank e sua equipe transformarão a funcionária Pam Gluckin (Allison Janney) em uma espécie de "bode expiatório" para os crimes cometidos que começam a vir a tona antes da investigação jornalística, desligando-a de uma das mais promissoras escolas da região. E isto, claro, desencadeará uma série de outros eventos (uns dramáticos, e outros tantos divertidos).


Talvez seja meio repetitivo dizer isso mas trata-se, afinal, de uma obra que bebe na fonte do estilo dos Irmãos Coen, com o humor de costumes e a tragédia anunciada sendo divididos por uma linha muito tênue. Sem muita pressa, Rachel vai construindo seu trabalho investigativo - como na cena em que percebe uma grotesca goteira que verte água da sala da administração ou lendo uma série de documentos saídos do setor de contabilidade -, que tornarão sua descoberta digna dos maiores repórteres investigativos do The New York Times ou do Washington Post. E, mesmo vendo a casa cair a sua volta, Frank não perderá a fleuma, elaborando uma intricada estratégia de sobrevivência que envolve um relacionamento extraconjugal, um casamento jamais revelado e uma conveniente "viuvez" que serve de muleta. Já Pam, que inicialmente surge como grande vilã, terá seu status alterado conforme a narrativa avança - e conforme percebemos que o chefão dessa "máfia" está acima dela.

Com uma pitada de surrealismo, a obra tem em suas ótimas reviravoltas e em seu roteiro bem engendrado uma de suas fortalezas - ainda que eventualmente a cadência pudesse ser um pouco melhor resolvida. A outra, envolve a complexidade das personagens vistas - com virtudes e defeitos como qualquer pessoa. Afinal, como explicar a evolução do ensino das escolas de Long Island sob a gestão de Tassone, ao mesmo tempo em que assistimos o maior caso de corrupção envolvendo dinheiro público para as escolas americanas que se tem conhecimento? Esse tipo de insensatez até me fez lembrar o político Paulo Maluf, que elevou a frase "rouba, mas faz" a um outro patamar ao admitir que desviava verbas, mas por um bem maior. Se isso existe ou não, não deixa de ser divertido ver as máscaras dos bons moços do filme caindo aos poucos - um tipo de recurso que retira parte da obviedade do projeto, tornado-o melhor do que se investisse no mero maniqueísmo. Com boas interpretações - Janney é sempre ótima ao encarnar esse tipo de figura ambígua -, a película ainda conta com excelentes coadjuvantes (e eu não conseguia parar de rir a cada vez que a Annaleigh Ashford surgia em cena, com seu perfil dissimulada/ingênua). Não mudará o mundo, claro. Mas diverte.

Nota: 7,5

Nenhum comentário:

Postar um comentário