segunda-feira, 18 de novembro de 2019

Novidades em DVD/Now - A Vida de Diane (Diane)

De: Kent Jones. Com Mary Kay Place, Jake Lacy, Estelle Parsons e Glynnis O'Connor. Drama, EUA, 2018, 96 minutos.

São tempos individualistas os que vivemos, então não deixa de ser comovente assistir a um filme que reforce a importância das relações, dos laços, dos pequenos gestos de afeto, como no caso desse A Vida de Diane (Diane). Serão essas relações que darão sentido a nossa vida - ainda que eventualmente construídas de uma forma meio torta, em que a dependência fala muito mais alto do que a amizade em si. Nesse sentido, é interessante notar o fato de que a protagonista, que dá o nome original à obra e que é vivida pela ótima Mary Kay Place, nunca está sozinha: rodeada de parentes enfermos, de um filho usuário de drogas, de um casal de vizinhos idosos e até de um grupo de apoio à moradores de rua, a vida de Diane é auxiliar os outros. Tentar amenizar suas dores, suas frustrações, suas tristezas. O que faz com que tenhamos a impressão de que, mesmo acompanhada, ela pareça eventualmente solitária.

Trata-se de um filme dolorido sobre a chegada na terceira idade. Diane tem cerca de 70 anos, assim como a maioria dos seus amigos e parentes que vemos em cena. Aos poucos alguns adoecerão, padecerão de algum mal, enfim, morrerão. E esse contexto se descortinará na nossa frente sem nenhuma forçação ou excesso melodramático, afinal, assim é a vida. Diane andará pra lá e pra cá em uma via crucis exaustiva, que será visualmente representada pelas estradas que surgem como uma metáfora para a existência que anda, que anda e que anda indefinidamente - e para a vida que passa, inexorável, a despeito dos seus acontecimentos. Não por acaso, em uma das cenas mais tristes da película, Diane mal tem tempo de chorar a morte de sua prima, já terá de ir atrás do filho drogado, que reaparece depois de dias sem mandar notícias. A vida, afinal, é uma série de eventos que vem em enxurrada, eventualmente desconexos, que podem gerar sofrimento, dor, euforia, êxtase.


Se Diane fica arrebatada com o morador de rua que lhe dá um afago ao dizer que o dia dele ficava mais feliz quando era ela que lhe servia a comida no bandejão - que cena, meus amigos -, em outra, sentiremos junto com ela o arrependimento de não ter estado junto de alguém que amava no instante que lhe antecedia a morte. E não deixa de ser incrível como um filme tão sutil, tão econômico, consiga dizer tanto sobre essa força que rege a nossa presença nesse mundo: a da importância de termos com quem contar, em quem confiar. Não é por acaso que gosto da cena do jantar, em que idosos trocam amenidades, enquanto que os jovens e as crianças surgem em tela quase invisíveis, como espectros no formato "folha em branco", que ainda não tiveram a sua história suficientemente preenchida. O mesmo valendo para o momento em que Diane descobre que, superado um vício, seu filho Brian (Jake Lacy) está, agora, maravilhado por outra "droga".

É filme de instantes pequenos, de repetições, que pode soar excessivamente arrastado para alguns paladares, mas que tem razão de existir assim, já que vida próxima do ocaso, ao menos para Diane, parece uma coleção de fragmentos em que a espera parece mais dolorida, em que o tempo parece já olhar para o fim. A fotografia eventualmente escurecida, de tons mais pálidos, contribui para esse sentimento de vida que se vai indo e que não volta mais, conforme passa. E quando vemos uma Diane tão exaustivamente dedicada aos outros, tão presente, tão empática, tão altruísta, inevitavelmente acabamos por nos perguntar: quem vai cuidar dela? Como ela buscará a felicidade? Bom, talvez a felicidade dela, resida nesse modo de existir, colaborativo, em que as emoções estão presentes nas mínimas coisas, que para ela são grandes, importantes. E que a solidão poderá ser aplacada fazendo-se aquilo que gosta e convivendo com pessoas que amamos. Simples assim.

Nota: 8,0

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