sexta-feira, 1 de novembro de 2019

Tesouros Cinéfilos - Little Monsters (Little Monsters)

De: Abe Forsythe. Com Lupyta Nyong'o, Alexander England, Josh Gad e Kat Stewart. Comédia / Terror, Austrália, 2019, 94 minutos.

Little Monsters (Little Monsters) é disparado o filme mais imprevisível do ano. Um verdadeiro caleidoscópio visual (e sonoro), que junta comédia, romance, terror, drama, ficção científica, ação e até musical em uma mesma película. E, acreditem: na maior parte do tempo funciona direitinho! Especialmente pelo fato de a obra do diretor Abe Forsythe não se levar a sério demais. Sim, há mensagens sobre amadurecimento - especialmente na jornada pessoal do personagem Dave (o divertido Alexander England) -, mas mais do que isso o objetivo geral é brincar com todos os estilos, tornando o nonsense o padrão. Afinal de contas, onde mais encontraríamos um filme em que um grupo de crianças do jardim de infância se vê as voltas com um nada convencional apocalipse zumbi? Tendo de lutar por sua vida ao lado da professora Caroline (Lupita Nyong'o) e do já citado Dave?

Bom, o filme começa como uma comédia sobre um casal que briga o tempo todo. Dave é um músico fracassado e desbocado que parece não saber muito o que quer da vida, enquanto a namorada parece decidida a ter filhos, casar e tudo o mais. Definitivamente separados após um episódio de "traição" - ou algo próximo disso -, Dave se vê obrigado a ir morar com a irmã Tess (Kat Stewart). Tess tem um filho pequeno que se afeiçoa ao abobalhado tio, que fala um amontoado de palavrões, joga games violentos com o guri e alinda o leva para a aula vestido de Darth Vader. Em um desses dias, na escola, Dave se apaixona pela ensolarada professora Caroline, a ponto de se oferecer como ajudante desta, em um dia em que uma professora substituta não poderá comparecer. Bom, ele não estava fazendo nada mesmo e resolve acompanhar a turminha a uma viagem em uma espécie de parque de diversões.


Por uma daquelas casualidades que só acontecem em filme, o tal parque fica ao lado de uma base militar - e será de lá que escapará uma horda de zumbis que amedrontará a todos que frequentam o local. Abrigados em uma das lojas, na companhia do irritante apresentador de programas infantis Teddy McGiggle (Josh Gad), o grupo precisará pensar em formas de escapar. Enquanto mantém as crianças entretidas, alimentadas e até medicadas. Um relato como esse que estou fazendo pode fazer transparecer uma certa solenidade naquilo que se assiste, mas não: o clima todo é de deboche, com direito a piadas engraçadíssimas (a do fantoche zumbificado, pra mim, é uma das melhores!), trilha sonora saborosa - a forma como Shake It Off da Taylor Swift surge na obra é daquelas de "valer o ingresso" -, e um tipo de gore ao mesmo tempo realista, mas nunca necessariamente aterrorizante.

É, afinal, o feel good movie dos zumbis - se é que isso é possível. O trocadilho do título (quem seriam os monstrinhos, afinal, as crianças barulhentas, ou os mortos-vivos abobalhados?) também serve para subverter a lógica dos acontecimentos. Sem se preocupar com grandes explicações, como a origem do apocalipse zumbi, ou o destino final de seus protagonistas, a obra também é hábil na aposta nos detalhes, especialmente no que diz respeito ao uso das cores, sendo elas mais fortes para ressaltar às personagens que estão "vivas", num contraponto ao coletivo disforme, esverdeadamente melancólico e cinzento que envolve os zumbis. Fácil de assistir, leve, escrachado, excêntrico, é uma das surpresas do ano, dando também conta do talento de Lupyta. A atriz normalmente aparece em papeis mais sérios e, aqui, pôde exercitar um outro tipo de interpretação, realizando-o de forma competente, segura e cômica. Vale conferir.

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