quarta-feira, 13 de novembro de 2019

Cinema - Ventos da Liberdade (Ballon)

De: Michael Herbig. Com Friedrich Mücke, Karoline Schuch, David Cross e Alicia von Rittberg. Drama / Suspense, Alemanha, 2019, 125 minutos.

É uma pena que uma história tão boa (e real) tenha sido desperdiçada em um filme tão superficial quanto este Ventos da Liberdade (Ballon) - que retorna para 1979, época da Alemanha dividida pelo Muro de Berlim, para narrar a aventura de duas famílias que pretendem sair do lado oriental, migrando para o ocidental, em um balão de gás. Sim, a obra do diretor Michael Herbig começa com um letreiro explicando o fato de que milhares de pessoas tentaram esse subterfúgio, tendo sido uma parte delas abatida pelo regime da Stasi (que transformava os desertores automaticamente em inimigos). Nada sutil, o filme prossegue com um coral infantil, que canta uma música de louvor ao socialismo, enquanto uma sequência de imagens mostra o tipo de violência que é destinada a quem tenta atravessar a fronteira. Era um tempo sombrio para a Alemanha, assim como foi o regime capitalista de Adolf Hitler, na primeira metade do século.

Mas, a despeito do componente político, o filme é muito menos uma bandeira a favor do ocidente e muito mais uma trama de ação e aventura, que bebe diretamente na fonte hollywoodiana do gênero. E, curiosamente, confesso que esse aspecto foi um dos que mais me incomodou. Há duas tentativas da família que protagoniza o filme, em cruzar a fronteira de balão. Em ambas as ocasiões há um uso ostensivo da trilha sonora de suspense (que sobe a todo instante, de forma quase inexplicável e completamente "descolada" do tom da narrativa) que, aliada a ma fotografia cinza-azulada, pretendem transformar este num exemplar do "Liam Neeson salva a família", desperdiçando a oportunidade de tornar a obra uma reflexão, talvez até existencialista, acerca do mal-estar causado por regimes totalitários. Talvez a película pudesse ser mais sutil em alguns momentos. Menos excessiva. Mais bem aparada. Desse jeito o espectador parece ter suas sensações sempre induzidas pelo componente técnico: o que é muito irritante.


E nem vou falar da longuíssima duração, com o filme se demorando vagarosamente em sequências como a da compra do tecido para a confecção do artefato - que deve ser em partes, para não gerar suspeita -, ou mesmo a do desnecessário flerte entre o jovem casal de vizinhos, que está em lados políticos (e familiares) opostos. Claro, não vou negar que não haja tensão em cada um dos voos de balão, especialmente no segundo, quando a fuga da família mobiliza boa parte do exército alemão que está empenhado em capturá-los. Mas mesmo esse clímax parece realizado de forma meio torta, apressada (num verdadeiro paradoxo em relação ao tamanho restante da obra). E, sobre a fuga em si de um regime comunista, onde estava a opressão? A perseguição? Aliás, ela existia? No miolo do filme há sonhos paranoicos de ataques do exército da Stasi (todos fogem para um hotel, como medida de segurança), mas nada se concretiza. Tudo fica no campo das possibilidades (e dos olhares desconfiados).

No mais, o filme também peca um pouco no desenho dos personagens: não há uma grande diferenciação entre os integrantes da família central, ou algum traço da personalidade deles que os distinga dos demais. Eventualmente cada um deles reagirá com medo, será corajoso, sorridente, aventureiro, de forma aleatória - sendo, curiosamente, o tenente coronel Seidel (Thomas Kretschmann), a figura com maior profundidade, capaz de nos gerar dúvida sobre seu comportamento. Ainda que, aqui e ali, haja algo no olhar ou no gestual de Doris (Karoline Schuch) e de seu filho Gunter (David Cross). No mais, é uma película que aposta demais no clima de suspense e de ação, no maniqueísmo do bem contra o mal, mas que dilui o poder do debate político, em cenas cansativas, óbvias e de pouca imaginação. Uma pena.

Nota: 5,5

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