segunda-feira, 16 de setembro de 2019

Pérolas da Netflix - Um Banho de Vida (Le Grand Bain)

De: Gilles Lelouche. Com Mathieu Amalric, Guillaume Canet, Virginie Efira e Benoit Poelvoorde. Comédia, França, 2018, 122 minutos.

Taí um filme completamente despretensioso, daqueles que tu não dá absolutamente nada, mas que te conquista já nos primeiros minutos e vai te ganhando cada vez mais, conforme a projeção avança. Sim, Um Banho de Vida (Le Grand Bain) Pode até ser apenas uma comédia divertida sobre homens de meia-idade que resolvem formar um coletivo de nado sincronizado - e foi justamente a excentricidade do tema que me atraiu para a obra do diretor Gilles Lelouche (do péssimo Os Infiéis). Mas o que parece uma mera bobajada, aos poucos vai se transformando em um filme tocante sobre a importância da amizade e, especialmente, sobre o valor das pequenas coisas. Sabe aquele seu hábito que não tem nenhuma importância para a demais pessoas - pode ser jardinagem, frequentar um clube de mães, andar de bicicleta, ir ao teatro -, mas que para você pode ser TUDO na vida? Ou algo minimamente relevante? Bom, esse pequeno achado perdido lá na Netflix te faz refletir sobre isso.

A ideia de participar de um time de nado sincronizado surge meio que por acaso na vida do desempregado Bertrand (o sempre ótimo Mathieu Amalric) - quando ele vê uma propaganda no clube local. A despeito do suporte de sua devotada esposa Claire (Marina Foïs), Bertrand está deprimido pelos dois anos sem trabalho. Assim, treinar nado sincronizado, fazer algo diferente, gastar energia e extravasar dentro da piscina, se torna uma alternativa para não enlouquecer. No local, conhece seus companheiros de nada sincronizado, sujeitos tão derrotados quando ele. Há um empresário que está indo a bancarrota, um músico decadente que não agrada nem tocando em bingos da terceira idade, um homem de personalidade violenta que está sendo abandonado pela mulher e pela filho, um outro que não leva nenhum jeito com as mulheres. E entre eles, até a professora Delphine (Virginie Efira) tem os seus "demônios": atleta de ponta, se tornou alcoólatra após a separação de sua antiga companheira de esporte, sendo o trabalho como treinadora uma forma de se reconectar ao nado.


Sem soar excessivamente melancólica, a narrativa vai revezando as histórias de cada uma das personagens que assistimos em tela, o que faz com que a gente compreenda a importância do grupo de nado, que torna uma espécie de "rede de apoio" para todos os envolvidos. Apesar das dificuldades (e diferenças de personalidade), todos se apoiam, se sobressaindo o companheirismo que vai sendo reafirmado conforme as aulas avançam - e o número exibido por eles vai ganhando força, especialmente após o "surgimento" da enérgica professora Amanda . Até o momento em que eles decidem participar de uma espécie de campeonato europeu de seleções - um tipo de prova definitiva que, inevitavelmente, servirá como uma metáfora para suas próprias vidas. Em um esporte raramente masculino, afinal, não será necessário superar apenas o preconceito, mas também as demais adversidades, sendo hora de levantar a cabeça e dar a volta por cima.

Com leveza, o filme se vale de sua fotografia levemente granulada para conferir naturalidade ao projeto. Há boas piadas e não serão poucos os momentos em que nos pegaremos rindo do inusitado - como na sequência em que o grupo tenta decidir qual será o nome do time - ou do absurdo da condição humana (há uma ótima e tocante cena de discussão no mercado). Mas há também relevância na abordagem de seus temas. A trilha sonora é apropriada, envolvente e eventualmente nostálgica - como não sorrir ao escutar já nos primeiros minutos Everybody Wants to Rule The World do Tears For Fears -, sendo a película um verdadeiro elogio ao poder da amizade, da perseverança e da força de vontade, que é capaz até de fazer o impossível se tornar possível. Um pino redondo pode entrar em um buraco quadrado e vice-versa? Sim, pode. E você que não duvide disso.

Nenhum comentário:

Postar um comentário