segunda-feira, 23 de setembro de 2019

Novidades em DVD/Now - O Mistério de Henri Pick (Le Mystère Henri Pick)

De Remi Bezançon. Com Fabrice Luchini, Camille Cottin, Alice Isaaz e Bastien Bouillon. Comédia / Drama, França, 2019, 100 minutos.

Quem gosta de literatura não pode deixar de assistir a esse despretensioso O Mistério de Henri Pick (Le Mystère Henri Pick). Trata-se de uma comédia leve, com algumas pitadas de suspense, em que acompanhamos a jornada de um crítico literário que tenta, a todo o custo, descobrir a verdade por trás de um livro escrito por um pizzaiolo, que se torna um inesperado best seller dois anos após a sua morte. O manuscrito do livro em questão é "descoberto" pela editora Daphne Despero (Alice Isaaz) quando, em uma visita ao seu pai, ela conhece uma biblioteca que abriga publicações rejeitadas por editoras. Fascinada pelo local, ela se encanta com um romance escrito por um certo Henri Pick - que tudo o que havia escrito em sua vida antes do livro, eram receitas que utilizaria em sua pizzaria. Com o apoio da família do falecido e acreditando no talento literário do sujeito, ela resolve publicá-lo. Resultado: o livro vira febre e imediatamente entra para a lista de mais vendidos na França.

O inesperado sucesso da publicação acaba por gerar certo fascínio pelo autor, que se torna famoso de maneira póstuma. Como forma de divulgar o livro, Daphne e a família de Pick - a viúva Madeleine (Josiane Stoléru) e a filha Joséphine (Camille Cottin) -, são convidadas para um talk show em que um presunçoso apresentador e crítico literário chamado Jean Michel (o sempre ótimo Fabrice Luchini), coloca em dúvida a história contada por todos. Pior: acredita que Henri Pick seja uma farsa e que, de quebra, não se trata do verdadeiro autor da obra. O mal-estar exibido ao vivo para a televisão francesa resulta na demissão de Jean Michel. Ao chegar em casa, sua mulher, insatisfeita com o seu comportamento e com a sua petulância, também o abandona. Sem nada para fazer (e pensar), que não seja o mistério envolvendo Henri Pick, ele vai até a pequena cidade francesa em que vivia o pizzaiolo: quer tentar de todas as formas solucionar o caso.


É a partir daí que acompanharemos uma pequena via-crucis de Jean Michel, que visitará não apenas o prédio em que ficava a pizzaria, mas também a casa dos parentes, cartas publicadas, antigos vídeos e até o cemitério em que Pick está enterrado, tentando conseguir alguma pista que denuncie o que está por trás desse escritor tão talentoso, que teria deixado apenas um livro tão genial. Divertido, o filme fará referências a um possível comportamento recluso do candidato a escritor - que faria leituras escondidas do poeta russo Alexandre Pushkin e que escreveria a conta-gotas no andar de cima do prédio da pizzaria (observando a torre da igreja). Algumas reviravoltas farão com que também questionemos a real existência de Pick como um escritor de talento - ainda que o comportamento absurdamente arrogante de Jean Michel, nos faça torcer para que ele, de fato, esteja errado.

Muito menos interessado em comover a plateia com grandes reviravoltas - a desse filme pode até ser previsível para alguns -, o filme do diretor Rémi Bezançon, ainda dá algumas alfinetadas no mercado literário, que é capaz de relegar para segundo plano obras com bom potencial, não tendo ainda escrúpulos em utilizar jogadas de marketing extremas para atrair a atenção de certos autores lançados. Com algumas piadas engraçadas envolvendo títulos de livros perdidos na biblioteca dos rejeitados, a película não julga seus personagens, parecendo compreender as dificuldades que envolvem não apenas o universo daqueles que resolvem se aventurar pelo mundo das letras, mas também dos críticos, que recebem um sem fim de livros novos para ler e que devem, afinal, fazer algum tipo de triagem para que sua atividade se torne, efetivamente, prazerosa. Assim como muitos livros agradáveis, esse não é um filme que vá mudar a nossa vida: mas passará ligeirinho e ainda nos arrancará alguns sorrisos.

Nota: 8,0

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