É um álbum agradável de se ouvir e, ainda que beba de fontes já há tanto exploradas na década já citada - é impossível não lembrar de artistas como Sade ou Des'ree, por exemplo - é impressionante o frescor trazido pelo disco. É como se todos aqueles referenciais que a gente já conhece fossem enfiados dentro de um liquidificador, para resultar num caldo que foi devidamente depurado, decantado, para que o melhor seja "bebido". Em uma playlist digamos, mais quente, o trabalho não faria feio ao lado de outros contemporâneos, como The xx, Cigarettes After Sex, Jessie Ware ou Miguel ainda que, com personalidade própria, as canções ecoem suas próprias angústias existencialistas. Dilemas do homem moderno distribuídas em pequenas doses, para serem saboreadas com calma, sem pressa - assim como provavelmente será um jantar romântico, com o melhor vinho e a melhor companhia.
Peça central do trabalho, a sinuosa segunda composição do disco, chamada The Fall, servirá como uma espécie de guia natural para as idas e vindas que encontraremos na audição do material. Com seu teclado angustiado, até meio apressado, o vocal de Milosh se torna o contraponto discreto, que acalma, que coloca as coisas no lugar, em maio as confusões imprevisíveis do coração. Oooh, faça amor comigo / Mais uma vez, antes de você ir embora / Porque você não pode ficar? praticamente suplica um eu lírico dolorido, que mostra que o amor tem suas complexidades, formatos difusos. O mesmo tipo de expediente é repetido em canções levemente mais animadas, como Hunger (Eu não estou sozinha / Só me sinto como uma sombra) ou na inaugural Open (Quero fazer isso dar certo / Oh, eu sei que você está desbotando).
Após o lançamento de Woman, o Rhye, como que enfeitiçado pelo trauma das bandas que surgem para o mundo com um grande álbum de estreia, jamais conseguiu repetir o feito nos registros seguintes. Se o trabalho inaugural foi saudado pela crítica - o Pitchfork lhe concedeu uma nota 8,5, considerando-o um material "gentil, suave e fácil de se perder" e "que tem arranjos e canto que raramente se elevam acima do nível de uma conversa" - Blood (2018), o trabalho seguinte, chegou a público de forma bastante discreta. O mesmo valendo para o pequeno EP Spirit (2019), lançado em maio desse ano. Mas nada que apague o que Pilosh alcançou com o classudo álbum de estreia. Uma obra que materializa musicalmente os tapetes felpudos e acolhedores, os abajures de luz ambiente e os lençóis de cetim que, certamente mais tarde, serão bagunçados.
Nenhum comentário:
Postar um comentário