terça-feira, 25 de junho de 2019

Novidades em DVD - O Gênio e o Louco (The Professor and The Madman)

De Farhad Safinia. Com Mel Gibson, Sean Penn, Natalie Dormer, Jennifer Ehle e Eddie Marsan. Drama / Biografia, EUA, 2019, 125 minutos.

Filme que passou meio despercebido pelas salas de cinema do País, O Gênio e o Louco (The Professor and The Madman) é daqueles que merece ser (re)descoberto na telinha. Não apenas por reunir dois astros do calibre de Sean Penn e Mel Gibson em grandes interpretações, mas também por apresentar ao mundo uma excelente história: a do ambicioso projeto iniciado em 1857, que visava à criação da primeira edição do Dicionário Oxford de língua inglesa. Um trabalho árduo, longo, exasperante, que contou com a colaboração de dezenas de pessoas até a sua conclusão, mais de 70 anos depois, com mais de 400 mil verbetes inclusos. Em cena, duas figuras que realmente existiram: o professor James Murray (Gibson) e o doutor W.C. Minor (Penn), traumatizado veterano de guerra que comete um crime logo no começo da película, ao confundir a vítima com outra pessoa.

Enviado para uma espécie de sanatório para criminosos, Minor tenta superar o sentimento de culpa, ao passo em que se aproxima da viúva Eliza (Natalie Dormer) que, agora sem o marido, luta para sustentar os seis filhos. Já Murray, se oferece para a laboriosa tarefa do dicionário - e a angústia em evoluir apenas na letra "A" já dá uma boa dimensão da dificuldade enfrentada pelo grupo que se empenha na atividade. O cenário muda quando Murray resolve convidar, literalmente, qualquer pessoa que esteja disposta a auxiliar na elaboração dos tomos. Uma dessas cartas chegará até Minor que encontrará nesta tarefa uma forma de se ocupar, enviando milhares de verbetes para o dicionário que se constituía. Ali nasce uma amizade. Uma amizade entre dois sujeitos que têm suas vidas ligadas pela ambição, pela loucura e pelo desejo de concluir algo nada menos do que genial.


Nesse sentido, o filme do estreante Farhad Safinia se consiste em uma verdadeira homenagem aos vocábulos, com seus significados saltando da boca dos protagonistas, escapando pelos ares, fazendo curvas e retornando - e nos fazendo pensar no quão lindo pode ser o estudo da linguagem, a constituição de sentido ou a revelação de sinônimos. Metaforicamente, palavras como "Arte" aparecem como sendo daquelas de difícil fruição, com mais exigências, mais revisões e mais reencontros com volumes do passado, que poderão auxiliar na questão. É uma obra que homenageia as letras, o simbolismo da importância da leitura e que é representada não apenas por personagens que presenteiam outros com livros, mas que também sugerem ensinar um ao outro a ler (que é o caso de Minor, que propõe o tutoramento a Eliza como uma forma de se redimir da culpa carregada e de tentar fazer com que a jovem lhe perdoe).

A propósito do perdão, a obra também trata deste tema. E da amizade. Na aproximação de Murray e Minor, uma excêntrica parceria (e os poucos encontros entre os dois sujeitos se constituem de pontos altos). Já Eliza aparece, inicialmente, como uma figura naturalmente amargurada, mas que aos poucos vai dando espaço para a absolvição de Minor - especialmente ao descobrir que ele sofre de um severo caso de esquizofrenia. Com bom desenho de produção, que recria de forma fidedigna a segunda metade do século 19, uma fotografia acinzentada (que dá conta da melancolia que rege a existência daqueles que assistimos em cena) e ótimos e carismáticos atores em papeis secundários (Eddie Marsan e Jennifer Ehle, especialmente), O Gênio e o Louco é um filme gostoso de assistir e que, provavelmente, seria ainda melhor se fosse uns 20 minutos mais curto (às vezes tudo se torna meio arrastaaaado). Mas nada que comprometa.

Nota: 7,5

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