segunda-feira, 1 de julho de 2019

Cine Baú - Sem Destino (Easy Rider)

De Dennis Hopper. Com Peter Fonda, Dennis Hopper, Jack Nicholson e Phil Spectos. Drama / Aventura, EUA, 1969, 95 minutos.

Muito antes das motos da Harley Davidson, da jaqueta de couro e do rock clássico (ou farofa) de bandas como Steppenwolf serem associados àquele tiozão reaça que você conhece, o clássico da contracultura Sem Destino (Easy Rider) prestou uma verdadeira homenagem aos desajustados, aos hippies e as figuras excêntricas que vivem a margem da sociedade. Com moto, com jaqueta, com rock, com tudo. Ainda que o Flower Power ganhasse força como ideologia contrária ao uso da violência, nos Estados Unidos do ano de 1969 - período em que o republicano Richard Nixon assume a presidência - ainda parecia pairar uma certa desconfiança no ar, em relação aos rumos do País. Temas como a Guerra do Vietnã e a corrida espacial estavam em voga, o que parecia abrir espaço para um legítimo desejo de liberdade, que representasse efetivamente uma fuga das amarras do conservadorismo e do "sonho americano".

Talvez por isso essa obra tão pequena - a estreia de um ainda jovem Dennis Hopper na direção -, seja ainda tão representativa do espírito libertário daquele período, que transformava em "mocinhos", inesperadas figuras de cabelos compridos, colares indígenas e ambições de liberdade. A bordo de suas motos, tudo o que Wyatt (Peter Fonda) e Billy (o próprio Hopper) desejam é chegar à Nova Orleans para participar do Mardi Gras - a maior festa de carnaval americana. Para alcançar este objetivo, perpetram uma ação de tráfico de drogas na fronteira com o México que lhes rende muita grana. A partir daí partem em uma jornada que durará três dias e que desnudará o melhor e o pior dos americanos, seja no encontro absurdamente saboroso com uma comunidade de artistas hippies, seja no latente preconceito de um bando de caipiras da família de bem, que não conseguem se acostumar com a ideia de que homens possam adotar cabelos compridos - ou mesmo uma postura que fuja do padrão.


Mas certamente o melhor encontro será com o advogado George (Jack Nicholson), que auxiliará a dupla protagonista a sair da prisão após um episódio de "perturbação da ordem pública" (na verdade eles avacalharam um desfile). Na companhia de George, farão divagações sobre a presença de extraterrestres na terra e sobre as implicações da busca pela liberdade (naquela que, ideologicamente, é uma das principais sequências da película). Em meio a paisagens deslumbrantes e muito uso de drogas, o trio mergulhará nas entranhas de uma América conservadora, ao som de clássicos de artistas como Jimi Hendrix, The Electric Flag e Roger Mcguinn. Não haverá necessariamente uma história com começo, meio e fim - não ao menos nos moldes que conhecemos hoje -, mas até mesmo o roteiro e a montagem eventualmente desordenados e com uma lógica bastante particular, também funcionarão como pequenas subversões que pontuarão a película.

Recheado por grandes cenas, como a do banho pelado em uma piscina natural ao som de Wasn't Born To Follow do The Byrds, a da viagem de ácido em um cemitério (uma colagem de imagens quase nauseante) e a da violenta sequência final, Sem Destino é aquele filme que fica por ser uma espécie de líbelo da juventude que busca seu lugar no mundo ao mesmo tempo em que questiona o status quo e as convenções impostas pela sociedade. Premiado em Cannes na categoria Diretor Estreante, o filme, que completa 50 anos de seu lançamento neste mês, foi escolhido o 88º Melhor da História, de acordo com votação feita por integrantes do American Film Institute (AFI). Lançado no mesmo ano de Butch Cassidy, Meu Ódio Será Tua Herança, Perdidos na Noite, Z e Kes, também figura em outras listas valiosas, como a dos 1001 Filmes Para Ver Antes de Morrer e até na dos 100 Melhores Cult Movies de todos os tempos, o que dá conta de sua importância.

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