segunda-feira, 17 de junho de 2019

Cinema - Obsessão (Greta)

De Neil Jordan. Com Isabelle Hupert, Chloë Grace Moretz, Maika Monroe e Stephen Rea. Suspense, EUA / Irlanda, 2018, 96 minutos.

Histórias de stalkers que perseguem suas vítimas levando-as à exaustão física e psicológica não chegam a ser exatamente uma novidade no cinema. De pequenos clássicos modernos como Atração Fatal (1987) e Louca Obsessão (1990), passando ainda por alternativos como O Talentoso Ripley (1999) não foram poucas as vezes em que acompanhamos personagens com algum tipo de trauma, que as levam a se tornar obcecadas por outras pessoas, seus comportamentos ou estilos de vida. Para nós, espectadores, obras desse subgênero também parecem ser capazes de nos levar a algum tipo de catarse em que se sobressai um tipo de suspense muito mais psicológico do que aquele que apela para os sustos mais "fáceis". Não é diferente com o recém-chegado Obsessão (Greta), mais recente trabalho do diretor Neil Jordan (do surpreendente Traídos Pelo Desejo) e que representa a entrada da veterana Isabelle Hupert no universo dos perseguidores psicologicamente alterados.

O filme começa com cenas prosaicas da vida da jovem Frances (Chloë Grace Moretz), que trabalha como garçonete em um luxuoso restaurante de Nova York e divide um apartamento com a amiga Erica (Maika Monroe). Em um certo dia, voltando do trabalho, Frances se depara com uma bolsa que está perdida em um banco do metrô. Ao recolher o acessório e identificar a sua dona, após a verificação dos documentos, ela vai até o endereço para a entrega do objeto. No local lhe atende uma simpática senhora de nome Greta (Isabelle Hupert), que lhe oferece uma xícara de chá em agradecimento. Tudo corre relativamente bem: Greta é viúva, tem uma filha que não mora com ela, gosta de tocar pequenas árias ao piano... e se torna uma amiga involuntária de Frances, convidando-a outras vezes para a sua casa, para visitas ou mesmo para jantar.


Em um desses jantares, Frances faz uma descoberta dentro de um armário da casa de Greta, que lhe faz perceber que a bolsa "perdida", não passava de um estratagema para atrair pessoas para perto de si. De preferência jovens garotas que atendessem a um certo perfil, que tivessem perdido a mãe ou que tivessem dificuldades de relacionamento com os familiares. É quando Frances assustada tenta se afastar da mulher de todas as formas, que o seu calvário começa: ligações e mais ligações em seu celular, mensagens na secretária eletrônica, uma conversa sobre a necessidade de serem amigas como forma de substituir outras pessoas que não estão mais em suas vidas, aparições em lugares inadequados (em frente ao seu trabalho, no corredor do prédio em que mora)... enfim, Greta passa a transformar a vida de Frances em um inferno. E ao chamar à polícia, a jovem enfrenta a burocracia de um sistema de segurança que não lhe ouve e, pior: não vê crime na "mera perseguição".

Ainda que não traga alguma novidade no que diz respeito ao gênero, Neil Jordan entrega uma obra correta, com boa atmosfera, excelente trilha sonora e detalhes que tornam agradável a experiência. Da vizinhança decrépita de Greta (ponto pro criativo desenho de produção), às pequenas nuances do olhar ou da inflexão de voz que alteram o comportamento de Isabelle de "velhinha querida" para "demonho em pessoa", a película tem na presença da premiadíssima veterana uma de suas atrações - e talvez o filme nem funcionasse tanto, se não fosse a presença magnética da atriz, que encarna com naturalidade a maluca que ataca violentamente a sua vítima, enquanto dança ensandecidamente ao som de Chopin. Com uma pequena reviravolta nem tão surpreendente no final, a obra tem estrutura convencional, mas cumpre seu papel, com um suspense crescente e uma permanente sensação de que algo está prestes a sair do controle. O que em filmes sobre stalkers, é tudo o que precisamos.

Nota: 7,5

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