Partindo exatamente de onde parou no ótimo Shadows, de 2010, a banda não tem a mínima vergonha de recorrer as características que delimitam (ou marcam) os seus trabalhos anteriores, ao ponto de pensarmos que Here não faria feio caso fosse lançado como espécie de registro de sobras de estúdio de qualquer época. E se a abertura com a radiofônica I'm In Love parece um retorno inevitável a época de Bandwagonesque (1991) - e daquele período em que aguardávamos o Lado B, comandado por Kid Vinil na finada MTV, só pra assistir ao videoclipe de Star Sign - pequenas preciosidades como Thin Air, It's A Sight, Hold On e The Darkest Part Of The Night, parecem homenagens ainda mais escancaradas aqueles grupos que fizeram parte de sua formação musical, casos de The Byrds, Beach Boys e, mais especificamente, Big Star.
Afagando o ouvinte a cada curva de suas agradáveis canções ao mesmo tempo elegantes e cheias de personalidade - e que se equilibram bem entre o requinte do cancioneiro do Reino Unido e o shoegaze americano - os rapazes, na verdade agora senhores de meia idade, mantêm a mesma qualidade lírica, ainda que, eventualmente, as preocupações da vida, do cotidiano e dos relacionamentos possam ser outras. E não é por acaso que a banda reflete sobre as agruras de se viver em um mundo cheio de dor - e de pessoas que se magoam - já na abertura, com I'm In Love - There is pain in this world / I can see it in your eyes / It's so hard to stay alive / At the edge of the night, observa o eu lírico, não sem uma uma boa pitada de resignação.
Ainda que as temáticas - e o recurso da análise do cotidiano e do ponto de vista individual como um recorte para o todo - sejam repetidas em outras momentos, casos de I Have Nothing More to Say, I Was Beautiful When I Was Alive e na já citada The Darkest Part Of The Night, isso não significa de forma alguma que o grupo está mais melancólico. Ainda que, aqui e ali, a presença de uma balada a mais, de alguma psicodelia desviada, do teclado gracioso ou do clima absolutamente intimista, possam dar essa impressão. Leve e singelo como a sua imagem de capa - uma pintura de uma cachoeira em um cenário bucólico que poderia remeter ao acolhimento proposto por seus integrantes - Here não chega exatamente para marcar passo como um dos grandes registros desse milênio. Mas o caso é que ele jamais tenta chegar perto disso. Ainda que quase consiga, não se pode negar.
Nota: 8,5
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