O filme Jogo do Dinheiro (Money Monster) apresenta uma condição (quase) rara: a de nos apresentar a um grupo de personagens que, se não chega a ser desprezível em sua totalidade, é capaz de nos despertar o mínimo possível de - pra não dizer nenhuma - empatia. E quem gosta de filmes sabe que parte da experiência cinematográfica abrange não apenas o envolvimento com a trama que se desenrola - e com quem participa dela -, mas também a plena compreensão dos desejos e ideias daqueles que protagonizam a obra a que estamos assistindo. Costuma-se dizer que essa lógica se aplica bem as comédias românticas: todos sabemos qual será o desfecho da história. O que a tornará valiosa será o percurso realizado no decorrer do filme e de como nos preocuparemos ou nos enterneceremos diante dos eventos mostrados.
Nesse sentido, um filme que apresenta como principal arco dramático a tragédia econômica dos sujeitos de classes relativamente bem resolvidas nos Estados Unidos, só poderá interessar aos espectadores que procuram um suspense escapista, com alguma pitada de ação e MUITO maniqueísmo. E se há um momento em que a mais recente obra da atriz Jodie Foster - em sua quarta incursão por trás das câmeras - funciona, é em seus primeiros minutos, quando somos apresentados a Lee Jones (Clooney), âncora de um show televisivo chamado Money Monster, que dá dicas sobre mercado financeiro e seus potenciais investimentos, num estilo bem-humorado, próximo do deboche e bem de acordo com o padrão atual que tem na espetacularização a ordem do dia. (e confesso que o trailer de fato me prendeu, especialmente por gostar das películas que abordam os bastidores do jornalismo).
Só que, com a intenção de tornar Lee um sujeito absolutamente seguro de si e de seu papel no show business - o que, não se pode negar, Clooney faz com algum charme - Foster transforma o protagonista em um sujeito totalmente presunçoso, arrogante e, como não poderia deixar de ser, preconceituoso. (e o fato de Lee cantar uma produtora negra que atua nos bastidores da atração, perguntando como está o garçom com quem ela namora, dá conta de seu caráter movido apenas por ação condicionada e pela crnça no poder de 'compra' das pessoas por meio do dinheiro, em um gesto não apenas sem graça, mas de humilhação). E não é por acaso que quando um desconhecido (Jack O'Connell, se esforçando para soar dramático) entra ao vivo no programa, ameaçando mandar tudo pelos ares, já estamos tão desconectados de tudo que vimos até aquele momento, que só o que conseguimos fazer é suspirar e balbuciar um: "ok, vamos lá".
E se por um lado o filme acerta ao apresentar as movimentações de bastidores com a intenção de resolver a questão - boa parte delas a partir das ações da produtora Patty Fenn, personagem de Julia Roberts -, ou mesmo as reações do público e de outros veículos de imprensa diante daquilo que se vê no programa comandado por Lee, por outro o excessivo uso de piadinhas e o pouco caso do personagem de Clooney em relação a um perigo que deveria ser encarado como uma ameaça real, não se pode negar, também dilui parte de uma obra que se pretende tensa. A situação só piora quando conhecemos as motivações do invasor - que perdeu US$ 60 mil em um investimento furado no mercado de ações. E que, agora, é odiado pela namorada grávida que o considera um derrotado pelo fato deste não ter sido capaz de "vencer" nesse tão importante universo que é o dos negócios. Amor? Compreensão? União nas dificuldades? Nada disso. Perdeu grana, rapá. Tu não é NADA.
Se esforçando para não abusar do clima "bandido bom é bandido morto", o que é um razoável acerto, o filme mostra o grupo de policiais a princípio preparado para executar um movimento que poderá (ou não) salvar a vida de todos. E tudo melhora (nessa parte estou ironizando) quando descobrimos que, rá, no fim das contas o real vilão era um megaempresário de uma instituição financeira que desviava verba na mão leve, fazendo muita gente perder dinheiro - num reducionismo, vamos combinar, constrangedor. (e a presença de hackers de Mumbai, da máfia russa e de ativistas africanos tornará o bolo levemente confuso) Se a intenção de Foster era denunciar, por meio deste microcosmo, o estado geral da economia americana, especialmente após a crise de 2008, sim, o seu objetivo poderá ter sido a melhor possível. Mas enquanto não tenho a certeza sobre isso, prefiro ficar com uma obra mais robusta e impactante como A Grande Aposta (The Big Short), que executa melhor esse "diálogo", sem abusar da pirotecnia.
Nota: 4,3
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