quinta-feira, 1 de setembro de 2016

Palco Picanha - Cine Floyd no Teatro da Univates

Como o próprio slogan do Picanha diz, nossas maiores paixões são música e cinema. Quando um evento une essas duas formas de arte então, melhor ainda! E foi exatamente o sentimento de satisfação que tomou conta dos que tiveram a oportunidade de conferir, neste último dia 31 de agosto, a apresentação do projeto porto-alegrense Cine Floyd no Centro Cultural da Univates. Pra quem não conhece, a banda formada por Arthur Tabbal (Guitarra e Vocal), Ettore Sanfelice (Baixo), Gabriel Sacks (Bateria e Vocal) e Max Sudbrack (Teclados) traz para os palcos a famosa sincronia do incensado disco The Dark Side of the Moon, do Pink Floyd, com o filme O Mágico de Oz (obra de 1939 do diretor Victor Fleming, de ... E o Vento Levou).

Particularmente, nunca havia experimentado assistir à junção das duas obras para verificar a veracidade de que ambos se complementariam e, como bom fã de Pink Floyd, poder assistir à execução ao vivo da obra-prima de uma de minhas bandas favoritas e, ainda assim, matar a curiosidade em relação a esta lenda urbana era um compromisso imperdível. E, de fato, foi uma noite especial: a banda executou com precisão milimétrica todos os compassos de forma a tornar a sincronia perfeita e, embora alguns elementos do álbum original não estivessem presentes (os corais femininos e inserções de saxofone), a qualidade do som apresentado foi digno de um exímio concerto musical. Não bastasse tudo isso, a porção final do espetáculo contou com a performance da clássica (e extensa) canção Echoes (do álbum Meddle, de 1971) em sincronia com a porção final do filme 2001: Uma Odisseia no Espaço, obra máxima do gênio Stanley Kubrick.


Mas e aí, seria realmente proposital a composição de The Dark Side of the Moon de forma a fazer sentido com a execução do filme? Confesso que permaneço sem uma resposta clara sobre isso. É inegável reconhecer algumas coincidências durante a película e as músicas executadas, mais precisamente a partir da quinta faixa, The Great Gig in the Sky, a qual coincide com a cena em que Dorothy presencia um furação, o "espetáculo no céu" do qual a música fala, ou o momento em que Money começa a ser executada e as imagens se transformam em cores vibrantes, bem como sua batida que sincroniza perfeitamente com a marcha dos personagens em cena. Quando a menina encontra o personagem Espantalho, podemos ouvir a frase "the lunatic is on the grass" da faixa Brain Damage, enquanto o mesmo personagem apresenta um comportamento um tanto estranho (seria o lunático da música? Pouco provável, visto que a canção refere-se a Syd Barrett, fundador e líder da banda que teve que se afastar devido a problemas mentais e com drogas).

A livre interpretação também é parte da graça toda. Confesso que achei curioso que, no momento da execução de Us and Them, em especial na frase "which is which, and who is who", apareça uma bruxa em cena (que em inglês é witch, cuja pronúncia é similar a which, que significa "cujo"). Outra brincadeira interessante é que, durante a derradeira faixa Eclipse, Dorothy encontra o Homem de Lata e, praticamente durante a frase "beg, borrow or steal", ela encoste na lataria - o que não deixa de ser curioso pois a pronúncia de steal (roubar, em inglês) é similar a steel (aço). São momentos isolados que fazem com que fique praticamente impossível se livrar da sensação de estranhamento mas que, devido à capacidade do cérebro humano de reconhecer padrões e buscar familiaridades, podem sim representar apenas uma coincidência - afinal, na maior parte do tempo nada que nos chame muito a atenção acontece.


No entanto foi no momento final, com Echoes e a viagem literal e lisérgica proporcionada por Kubrick em seu 2001, que houve o melhor momento da noite, com a canção elevando ainda mais os sentimentos das imagens evocadas na tela - quem assistiu a Interestelar (de Christopher Nolan, 2014) verá de onde saiu a referencia de seu terço final - e é assombroso pensar que aqueles efeitos todos foram filmados durante a década de 70. Não à toa, conta-se que à época pessoas reuniam-se para assistir 2001 sob efeito de LSD para embarcar na viagem de Kubrick - e não é de se duvidar que o Pink Floyd tenha realizado o mesmo feito para compor esta maravilhosa canção.


Ademais, resta-nos parabenizar a iniciativa da Univates em trazer mais um grande espetáculo para a nossa região. Que venham muitos mais!

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