Como o próprio slogan do Picanha diz, nossas maiores paixões são música e cinema. Quando um evento une essas duas formas de arte então, melhor ainda! E foi exatamente o sentimento de satisfação que tomou conta dos que tiveram a oportunidade de conferir, neste último dia 31 de agosto, a apresentação do projeto porto-alegrense Cine Floyd no Centro Cultural da Univates. Pra quem não conhece, a banda formada por Arthur Tabbal (Guitarra e Vocal), Ettore Sanfelice (Baixo), Gabriel Sacks (Bateria e Vocal) e Max Sudbrack (Teclados) traz para os palcos a famosa sincronia do incensado disco
The Dark Side of the Moon, do Pink Floyd, com o filme
O Mágico de Oz (obra de 1939 do diretor Victor Fleming, de ...
E o Vento Levou).
Particularmente, nunca havia experimentado assistir à junção das duas obras para verificar a veracidade de que ambos se complementariam e, como bom fã de Pink Floyd, poder assistir à execução ao vivo da obra-prima de uma de minhas bandas favoritas e, ainda assim, matar a curiosidade em relação a esta lenda urbana era um compromisso imperdível. E, de fato, foi uma noite especial: a banda executou com precisão milimétrica todos os compassos de forma a tornar a sincronia perfeita e, embora alguns elementos do álbum original não estivessem presentes (os corais femininos e inserções de saxofone), a qualidade do som apresentado foi digno de um exímio concerto musical. Não bastasse tudo isso, a porção final do espetáculo contou com a performance da clássica (e extensa) canção
Echoes (do álbum
Meddle, de 1971) em sincronia com a porção final do filme
2001: Uma Odisseia no Espaço, obra máxima do gênio Stanley Kubrick.
Mas e aí, seria realmente proposital a composição de
The Dark Side of the Moon de forma a fazer sentido com a execução do filme? Confesso que permaneço sem uma resposta clara sobre isso. É inegável reconhecer algumas coincidências durante a película e as músicas executadas, mais precisamente a partir da quinta faixa,
The Great Gig in the Sky, a qual coincide com a cena em que Dorothy presencia um furação, o "espetáculo no céu" do qual a música fala, ou o momento em que
Money começa a ser executada e as imagens se transformam em cores vibrantes, bem como sua batida que sincroniza perfeitamente com a marcha dos personagens em cena. Quando a menina encontra o personagem Espantalho, podemos ouvir a frase "
the lunatic is on the grass" da faixa
Brain Damage, enquanto o mesmo personagem apresenta um comportamento um tanto estranho (seria o lunático da música? Pouco provável, visto que a canção refere-se a Syd Barrett, fundador e líder da banda que teve que se afastar devido a problemas mentais e com drogas).
A livre interpretação também é parte da graça toda. Confesso que achei curioso que, no momento da execução de
Us and Them, em especial
na frase "
which is which, and who is who", apareça uma bruxa em cena (que em inglês é
witch, cuja pronúncia é similar a
which, que significa "cujo"). Outra brincadeira interessante é que, durante a derradeira faixa
Eclipse, Dorothy encontra o Homem de Lata e, praticamente durante a frase "
beg, borrow or steal", ela encoste na lataria - o que não deixa de ser curioso pois a pronúncia de
steal (roubar, em inglês) é similar a
steel (aço). São momentos isolados que fazem com que fique praticamente impossível se livrar da sensação de estranhamento mas que, devido à capacidade do cérebro humano de reconhecer padrões e buscar familiaridades, podem sim representar apenas uma coincidência - afinal, na maior parte do tempo nada que nos chame muito a atenção acontece.
No entanto foi no momento final, com
Echoes e a viagem literal e lisérgica proporcionada por Kubrick em seu
2001, que houve o melhor momento da noite, com a canção elevando ainda mais os sentimentos das imagens evocadas na tela - quem assistiu a Interestelar (de Christopher Nolan, 2014) verá de onde saiu a referencia de seu terço final - e é assombroso pensar que aqueles efeitos todos foram filmados durante a década de 70. Não à toa, conta-se que à época pessoas reuniam-se para assistir
2001 sob efeito de LSD para embarcar na viagem de Kubrick - e não é de se duvidar que o Pink Floyd tenha realizado o mesmo feito para compor esta maravilhosa canção.
Ademais, resta-nos parabenizar a iniciativa da Univates em trazer mais um grande espetáculo para a nossa região. Que venham muitos mais!
Nenhum comentário:
Postar um comentário