sábado, 17 de setembro de 2016

Picanha em Série - Narcos (2ª Temporada)

[SPOILER ALERT: caso você ainda não tenha visto a série e não quer ter nenhuma surpresa estragada, vai lá e assiste e depois volta aqui pra ler =)]

Os fãs de Narcos ficaram arrasados quando a Netflix anunciou, apenas cinco dias após o lançamento da segunda temporada da série estrelada por Wagner Moura, que haveria continuação mesmo com o patrón mais famoso da telinha tendo sido abatido. Não, ninguém ficou triste pelo fato de haver uma terceira temporada - ainda que, a meu ver, o acabamento seria muito mais digno se o final da segunda leva de episódios representasse verdadeiramente o encerramento do projeto. O problema foi o BAITA spoiler involuntário, afinal de contas, por mais que boa parte das pessoas saiba qual foi o desfecho de Pablo Escobar, ainda havia a esperança de que a sua morte pudesse ser empurrada para a próxima temporada. Fora aqueles que faltaram nessa aula de história - o meu caso - e que nem sempre conseguem acompanhar em tempo real cada produto lançado pelo prolífico serviço de streaming.

Bom, Pablo morreu - e junto com ele se vai toda a mística por trás do sujeito, bem como seus modos absolutamente irascíveis, imprevisíveis e invariavelmente intempestivos. E por mais que a série - que tem entre os seus vários produtores executivos o brasileiro José Padilha - mostre de forma competente a verve insana e a aptidão para a crueldade e para o banho de sangue de seu protagonista, é perfeitamente possível compreender os motivos de boa parte da crítica ter ficado desgostosa com a forma "branda" como a sua carismática persona é mostrada na telinha. Sim, se por um lado centenas de pessoas morreram por suas mãos - a maioria deles policiais e pessoas ligadas aos serviços de segurança - por outro, o fechamento do cerco que busca desmantelar o cartel de Medellín reforça a sua preocupação com a família. Resultando até mesmo em uma surpreendente serenidade diante do perigo, especialmente quando o objetivo é o de proteger a esposa Tata (Paulina Gaitán) e os filhos.



A segunda leva de episódios inicia imediatamente ao final dos eventos vistos no final da primeira temporada, quando da fuga do patrón, dos capangas e da família de La Catedral - espécie de prisão que Escobar havia forjado para si próprio. É preciso que se diga que, em relação as cenas em que o maior narcotraficante de todos os tempos escapa do local em que está, a segunda temporada funciona quase como uma espécie de road movie policial, com fugas variadas de casa em casa, conforme a pressão pra cima do cartel de Medellín aumenta. E nesse sentido, não chega a surpreender o fato de Escobar buscar refúgio justamente na isolada propriedade rural de seu pai, quase ao final da temporada, em um dos episódios mais contemplativos e complexos do ponto de vista da interpretação, com Moura indo do amor ao ódio por seu progenitor em questão de segundos, o que garante momentos tensos e ternos na mesma medida.

Ir até a casa do pai é uma reação extrema, afinal todos estão atrás de Pablo Escobar. Quando digo todos, é todos MESMO. A começar pelo presidente César Gavíria (Raúl Mendez), que reforça o discurso e a procura pelo homem, apresentando como braço direito um certo chefe de polícia de nome Horacio Carrillo (Mauricie Compte) que, a despeito dos métodos inconsequentes de intimidação - com direito a assassinato de criança - acaba tendo um final trágico em uma emboscada forjada por Pablo. Outro grupo que quer a cabeça do chefão de Medellín é um que se autodenomina Los Pepes - espécie de grupo de extermínio de extrema de direita que, no passado, lutou contra facções comunistas do País e que tem a desculpa perfeita para querer matar Escobar que, no passado, se alinhou com as Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia (Farc). Se somam a estes, os antagonistas do Cartel de Calí, reforçados pela agora viúva Judy Moncada (Cristina Umaña) e entende-se os motivos de ser difícil até de comprar um picolé na esquina para a família Escobar.



E ainda há os agentes do DEA, Javier Peña (Pedro Pascal) e Steve Murphy (Boyd Holbrook), este segundo que segue como o fio condutor da história, ao narrar cada etapa das desventuras relacionadas a busca por Escobar, além de outros sujeitos relacionados a CIA e ao Ministério da Justiça, todos com a intenção de fazer o homem se entregar. A série não perde tempo com tramas paralelas, apenas incluindo novas personagens que, não apenas terão papel de destaque na trama, como ainda serão parte dos mais desoladores arcos dramáticos dessa segunda temporada. E não é por acaso que o último encontro entre o taxista cafetão Limón (Leynar Gomez) e a feirante e amiga de Limón Maritza (Martina Garcia) é daqueles para deixar um gosto amargo por horas, ao final do episódio, quando novamente é esfregado na nossa cara o fato de não haver limites para a violência, quando o assunto é atender as exigências e as necessidades do patrón.

Contando ainda com um elenco fabuloso em todos os sentidos - e não será surpresa uma nova indicação de Wagner Moura para as premiações, além de gostar muito de Diego Cataño como o La Quica, braço direito de Escobar que transborda violência por cada poro - a segunda temporada não economiza sangue, ainda que, aqui e ali, encontre espaço para momentos mais pueris (e até mesmo lentos), com muitos closes na expressão de Pablo que está ainda mais gordo e festivos (especialmente aqueles em que os Escobar se esforçavam para tentar ser uma família 'normal' em meio ao caos). Ao se manifestar sobre a série, o filho de Pablo Escobar, Juan Pablo afirmou haver 28 quimeras (que pode ser traduzido com "fantasias"), na produção da segunda temporada e que não seriam condizentes com a realidade. O caso é que Narcos nunca se disse fiel aos fatos - e não é por acaso que em TODAS as aberturas de episódio aparece um aviso que se trata de uma obra ficcional, inspirada em eventos reais. Mas Pablito não mais precisará se preocupar. A partir da terceira temporada é o Cartel de Cali quem comanda a "festa", com a queda do, até então, homem mais rico do mundo. E nós, aqui desse lado, esperamos que com a mesma qualidade.

Nota: 8,3

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