quarta-feira, 30 de março de 2016

Disco da Semana - Pete Yorn (Arrangingtime)

Se tem um cara que eu invejo no mundo da música é o Pete Yorn. Além de ser um cara dos mais bacanas, tocar, compor e cantar bem, ele foi responsável por um dos melhores discos do início do milênio, o musicforthemorningafter, de 2001. Dotado de uma habilidade única para criar canções de amor arrebatadoras (Just Another, do supracitado álbum, e Thinking of You, do Back and Fourth, de 2009, são algumas das favoritas deste humilde narrador) no seu estilo pop-rock-agridoce-radiofônico, o cantor não parou por aí: Yorn conseguiu a proeza de gravar um disco INTEIRO junto da maravilhosa atriz (e cantora) Scarlett Johansson, o bonito Break Up (2009) - que, por sinal, conta com a regravação de I Am the Cosmos (do Chris Bell, ex-Big Star), uma das canções mais dolorosamente lindas já feitas. Como se não bastasse o artista ainda gravou um álbum com o projeto The Olms, cujos pés fincados no Folk/Country a lá Wilco nos presenteou com mais um belo registro em 2013.

O recém lançado Arrangingtime é o oitavo álbum de sua carreira (contando o disco ao vivo Live in New Jersey, de 2014) e o primeiro após o roqueiro PY, de 2010. Aos 41 anos, o cantor e compositor lança talvez o seu disco mais bem produzido até o momento, retomando as canções cantaroláveis e prontas para tocar no rádio mas em uma atmosfera um pouco mais melancólica e luxuosa. Com seu notável vocal contido e sussurrado, Yorn demonstra um amadurecimento tanto lírico quanto instrumental ao priorizar diferentes texturas sônicas. De novidade aqui temos a presença de batidas eletrônicas em diversas faixas, mas sem modificar totalmente o som tão característico para quem já está habituado à obra do músico - algo que a banda The Wallflowers fez com o disco Red Letter Days, por exemplo. Se há ausência de hits memoráveis aqui, temos uma obra homogênea pronta a ser apreciada nesta chegada de estação cujas folhas caem e o frio lentamente se estabelece.


Do início com Summer Was a Day já podemos perceber a mudança de sonoridade já comentada, com seus teclados e nuances acompanhando o melodioso violão, o que não é problema obviamente pois logo somos apresentados a um dos mais belos refrões do ano até aqui. Lost Weekend mostra que o artista andou ouvindo o duo The Big Pink, talvez a faixa com mais apelo às batidas eletrônicas em sua levada e que vai surpreender os fãs. As faixas seguintes, Halifax e In Your Head, fazem lembrar algumas canções do início da carreira, principalmente o refrão fácil e cantarolável. She Was Weird com seus efeitinhos eletrônicos é um dos destaques do álbum, enquanto I'm Not the One acalenta o ouvinte com seu pop/rock suave. A seguinte, Shopping Mall, é a mais melancólica: levada por uma eletrônica lenta e um teclado sutil, rasga versos como "everyone is a shopping mall (...) I can't give you anything you already have", na mais dolorosa faixa do disco. Roses é levada ao violão, com aquele pegada mais folk, ainda em tom melancólico. Screaming at the Setting Sun tem a maior pinta de hit roqueiro, com "solinho" e tudo mais, chegando no momento certo pra empolgar o ouvinte após momentos mais densos. Walking Up é mais uma linda e apaixonada balada pronta a emocionar o ouvinte mais atento, enquanto Tomorrow e seu teor mais pop e pra cima dá a deixa para a derradeira This Fire, que encerra a obra de forma digna em uma nota bela mas ressentida pela perda.

Sempre gosto de frisar que o arrebatamento ou não pela música depende muito do contexto, e neste caso não é diferente. Nem digo que Arrangingtime seja a melhor obra do músico até aqui (o título permanece com seu álbum de estréia) ou que a mesma vá mudar alguma percepção sobre a arte no ouvinte. Mas que tenhamos um disco belamente produzido, com composições caprichadas, atmosférico e com uma beleza subjacente a todas as canções, já faz com que o mesmo seja recomendado sem restrições. Sem grandes firulas ou virtuosismos, Pete Yorn conseguiu dar um passo além em sua discografia sem deixar de reverenciá-la, mesmo em um tom um pouco mais baixo e melancólico, algo que só alguém maduro e com algumas cicatrizes em vida poderia criar.

Nota: 7,8.

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