quarta-feira, 2 de março de 2016

Disco da Semana - Elton John (Wonderful Crazy Night)

Poucos artistas parecem ter tanto prazer naquilo que fazem em suas vidas como o cantor e compositor Elton John. Há exatos três anos tive a oportunidade de assistir a uma apresentação do ídolo no Estádio do Zequinha, em Porto Alegre. Era um show comemorativo aos 40 anos de lançamento de Rocket Man. QUARENTA ANOS. Não foi apenas uma aula de boa música, com Elton, como um verdadeiro gentleman, entregando para os fãs a nata da nata de suas melhores composições da carreira. Foi um verdadeiro tratado sobre gentileza com o público. De cortesia. De distinção. De delicadeza. De elegância. Enfim, de nobreza, apenas como um verdadeiro SIR (com todas as letras maiúsculas) poderia se portar diante de cerca de 20 mil pessoas que ali estavam para lhe ver. Todos os adjetivos, lhes digo, sempre serão poucos para definir o que é um show do Elton John.

O astro não apenas toca e canta, com a sua potente voz. Ele interage com o público. O afaga entre uma música e outra. Abre os braços. Aponta sorridente para este ou aquele sujeito que ele identifica na plateia, provavelmente emocionado por aquilo que está presenciando. Manda beijos, sempre que possível. Salta, pula, como um guri. Isso sem falar a pontualidade. O show, lembro bem, estava marcado para às 21h. Após um pequeno atraso de sete minutos, ele estava entoando as notas de Bitch is Back. Em nenhum momento das cerca de duas horas e meia de exibição e quase 25 músicas executadas ele pareceu cansado, de saco cheio ou louco pra ir pra casa. Pensa num cara a fim de fazer um troço! Era o Elton John naquela noite. O Dave Grohl também tem esse estilo. E esse respeito ao público deveria constar nas aulas da "escola de artistas" - se elas existissem. Você vai tocar às 22h num bar? Oras, comece a tocar as 22h nesse bar e honre as 50 pessoas que estão ali para lhe ver. É o mínimo.



Impressionante como a motivação do "véinho" - ele vai completar 69 anos no dia 25 de março (e não poderia haver idade mais sugestiva para a ilustrar o tesão que ele ainda sente por aquilo que faz) - também se estende aos seus mais recentes registros. E mais ainda ao recém lançado e absolutamente divertido e roqueiro Wonderful Crazy Night - 32º álbum da carreira. Se em alguns discos mais recentes como Songs From the West Coast e The Diving Board, Elton parecia navegar em águas mais tranquilas, a exemplo de álbuns mais voltados para as baladas, como Ice On Fire, Sleeping With the Past e The One, em Wonderful Crazy Night, o que parece valer é o bom e velho rock and roll, com pitadas de blues, country e jazz. Se não chega a ser um retorno a clássicos como Tumbleweed Conection, Honky Chateau e Don't Shoot Me I'm Only The Piano Player (o meu favorito), é possível dizer, sem risco de errar, que o tom festivo, ensolarado, urgente, com o piano rasgando cada composição, o deixa muito próximo de qualquer um desses petardos fonográficos.

O clima de balada retrô-cool fica ainda mais claro quando escutamos canções como Guilty Pleasure, Looking Up e a faixa título. Não à toa, essas canções não fariam feio ao lado de outras como Crocodile Rock, Saturday Night (Alright for Fighting), I'm Still Standing, Honky Cat, Philadelphia Freedom e Sad Songs (Say So Much), em uma eventual setlist mais "agitada" do artista. E a própria capa do registro, absolutamente colorida, vibrante e festiva parece convidar o ouvinte a ter uma espécie de "noite louca e maravilhosa". Sim, sei que vocês devem estar pensando "o Tiago é fã e como fã tá erguendo o ídolo". Mas não é só uma questão de 10 novas composições alegres e animadas - sem esquecer das boas baladas de sempre. É música bem executada, com produção caprichada - de T. Bone Burnett em sua terceira colaboração seguida -, vocal limpo e uma certa elegância kitsch (se é que essa dicotomia é possível), que sempre lhe acompanhou. Ou, se vocês preferirem é simplesmente gostar de boa música. E quem não gosta?

Nota: 8,3

Nenhum comentário:

Postar um comentário