segunda-feira, 21 de março de 2016

Encontro com a Professora - Roman Polanski e a Trilogia do Apartamento

Se estes apartamentos falassem

Roman Polanski é um dos diretores mais versáteis do cinema, razão por que consegue criar obras realmente inovadoras entre uma produção e outra. É curioso, por exemplo, identificar que o mesmo diretor de A dança dos vampiros (1967), dirigiu Chinatown (1974) e Tess (1979). O oscarizado O pianista (2001) também é outro marco, agora bem ao gosto hollywoodiano. Mas o que interessa neste post é “a trilogia do apartamento”, outra ótima contribuição desse enfant terrible, nascido na França, de ascendência polonesa, e que hoje vive entre o exílio e premiações sem fim.


Take one: 1965 – Repulsa ao sexo (Repulsion): neste filme, o primeiro em inglês, a belíssima Carol Ledux (Catherine Deneuve) vive uma situação irreconciliável: ao mesmo tempo em que é desejada e perseguida pelos homens, sente-se profundamente reprimida em relação ao sexo. De fato, a simples ideia de um envolvimento nesse nível a deixa em pânico. Quando sua irmã sai de férias com o namorado, Carol se encerra no apartamento. Aos poucos, a paranoia se instala e ela não distingue mais a realidade das alucinações, todas relacionadas a estupro e morte, que é o modo como ela vê o sexo.


Take two: 1968 – O bebê de Rosemary (Rosemary´s baby): este é o primeiro filme de Polanski nos Estados Unidos. É preciso, em primeiro lugar, que se fuja da ideia mais óbvia sobre o filme, isto é, de ser uma obra sobre a chegada do anticristo. Por outro lado, lembremos que o boom de filmes sobre o demônio ocorre a partir dos anos de 1970, com o excelente O exorcista (1973) e o convincente A profecia (1976), além de muitos outros que jogam com o medo mais entranhado do imaginário cristão. Nessa linha, Polanski é um precursor da leva. Sua proposta, no entanto, se vale, sobretudo, do medo da maternidade, uma metáfora sobre o futuro. Um casal muito jovem (interpretado por Mia Farrow e Nick Cassavetes) encontra o apartamento dos sonhos que, contudo, não sabem se podem custear. As realizações estão todas no embrião: o marido que quer ser ator, a esposa que quer ser perfeita, uma criança que está para nascer e, na base de tudo, eles devem decidir até onde irão para conseguir o que querem.


Take three: 1976 – O inquilino (The tenant): quase dez anos se passam desde o último “apartamento” personificado de Polanski. Trelkolvsky (Roman Polanski) é um polonês que vive na França. Ao mudar-se para um novo apartamento, descobre que a inquilina anterior, uma jovem muito bonita (Isabelle Adjani) havia se suicidado, jogando-se da janela. Entre descobertas assustadoras, pouco a pouco, ele se torna obsecado pela história da moça. Do mesmo modo, começa a desconfiar dos vizinhos, afundando na paranoia – talvez – de que ele seja a próxima vítima. A solidão atroz do personagem revela o mesmo demônio que existe nos demais filmes da trilogia, fazendo com que o medo atropele a razão, enquanto o homem vive em uma caixa chamada apartamento, rodeado por olhos estranhos.


A trilogia do apartamento: difícil saber qual das três histórias causa mais tensão. A princípio, parece óbvio que seja O bebê de Rosemary pelo fatídico encontro com o mal em forma de demônio. Mas alguém enlouquecendo diante da percepção da própria sexualidade ou diante do convívio com uma morte misteriosa e violenta não é algo para se ignorar. O fato é que a loucura paira entre paredes cada vez mais escuras do lugar que querem chamar de “lar”. Em um ambiente urbano, a solidão e o medo, prenhes em todos os personagens, esperam seu momento para nascer. Parece-me, assim, que Rosemary´s baby, o mais comercial da trilogia, sintetiza, guardadas as proporções devidas, a trilogia, colocando o indivíduo diante da pressão de encarar um desafio que lhe parece intransponível. O que pode significar, afinal, uma criança sobre a qual a mãe se debruça e hesita entre abraçar ou usar uma faca?

3 comentários:

  1. só assisti, e várias vezes, "O bebê de Rosemary", um dos melhores filmes de terror já feitos. Fiquei curioso para assistir os outros.

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  2. São maravilhosos, mas ainda acho "O bebê de Rosemary" insuperável. Bom demais!

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  3. São maravilhosos, mas ainda acho "O bebê de Rosemary" insuperável. Bom demais!

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