Se estes apartamentos falassem
Roman Polanski é um dos diretores mais versáteis do cinema, razão por que consegue criar obras realmente inovadoras entre uma produção e outra. É curioso, por exemplo, identificar que o mesmo diretor de A dança dos vampiros (1967), dirigiu Chinatown (1974) e Tess (1979). O oscarizado O pianista (2001) também é outro marco, agora bem ao gosto hollywoodiano. Mas o que interessa neste post é “a trilogia do apartamento”, outra ótima contribuição desse enfant terrible, nascido na França, de ascendência polonesa, e que hoje vive entre o exílio e premiações sem fim.
Take
one: 1965 – Repulsa ao sexo (Repulsion): neste filme, o primeiro em
inglês, a belíssima Carol Ledux (Catherine Deneuve) vive uma situação
irreconciliável: ao mesmo tempo em que é desejada e perseguida pelos homens,
sente-se profundamente reprimida em relação ao sexo. De fato, a simples ideia
de um envolvimento nesse nível a deixa em pânico. Quando sua irmã sai de férias
com o namorado, Carol se encerra no apartamento. Aos poucos, a paranoia se
instala e ela não distingue mais a realidade das alucinações, todas relacionadas
a estupro e morte, que é o modo como ela vê o sexo.
Take
two: 1968 – O bebê de Rosemary (Rosemary´s baby): este é o primeiro filme de
Polanski nos Estados Unidos. É preciso, em primeiro lugar, que se fuja da ideia
mais óbvia sobre o filme, isto é, de ser uma obra sobre a chegada do anticristo.
Por outro lado, lembremos que o boom
de filmes sobre o demônio ocorre a partir dos anos de 1970, com o excelente O exorcista (1973) e o convincente A profecia (1976), além de muitos outros
que jogam com o medo mais entranhado do imaginário cristão. Nessa linha,
Polanski é um precursor da leva. Sua proposta, no entanto, se vale, sobretudo,
do medo da maternidade, uma metáfora sobre o futuro. Um casal muito jovem (interpretado
por Mia Farrow e Nick Cassavetes) encontra o apartamento dos sonhos que, contudo,
não sabem se podem custear. As realizações estão todas no embrião: o marido que
quer ser ator, a esposa que quer ser perfeita, uma criança que está para nascer
e, na base de tudo, eles devem decidir até onde irão para conseguir o que
querem.
Take three: 1976 – O inquilino (The tenant): quase dez anos se passam desde o último “apartamento” personificado de Polanski. Trelkolvsky (Roman Polanski) é um polonês que vive na França. Ao mudar-se para um novo apartamento, descobre que a inquilina anterior, uma jovem muito bonita (Isabelle Adjani) havia se suicidado, jogando-se da janela. Entre descobertas assustadoras, pouco a pouco, ele se torna obsecado pela história da moça. Do mesmo modo, começa a desconfiar dos vizinhos, afundando na paranoia – talvez – de que ele seja a próxima vítima. A solidão atroz do personagem revela o mesmo demônio que existe nos demais filmes da trilogia, fazendo com que o medo atropele a razão, enquanto o homem vive em uma caixa chamada apartamento, rodeado por olhos estranhos.
A trilogia do apartamento:
difícil saber qual das três histórias causa mais tensão. A princípio, parece
óbvio que seja O bebê de Rosemary pelo
fatídico encontro com o mal em forma de demônio. Mas alguém enlouquecendo
diante da percepção da própria sexualidade ou diante do convívio com uma morte
misteriosa e violenta não é algo para se ignorar. O fato é que a loucura paira
entre paredes cada vez mais escuras do lugar que querem chamar de “lar”. Em um
ambiente urbano, a solidão e o medo, prenhes em todos os personagens, esperam
seu momento para nascer. Parece-me, assim, que Rosemary´s baby, o mais comercial da trilogia, sintetiza, guardadas
as proporções devidas, a trilogia, colocando o indivíduo diante da pressão de
encarar um desafio que lhe parece intransponível. O que pode significar, afinal, uma
criança sobre a qual a mãe se debruça e hesita entre abraçar ou usar uma faca?
Roman Polanski é um dos diretores mais versáteis do cinema, razão por que consegue criar obras realmente inovadoras entre uma produção e outra. É curioso, por exemplo, identificar que o mesmo diretor de A dança dos vampiros (1967), dirigiu Chinatown (1974) e Tess (1979). O oscarizado O pianista (2001) também é outro marco, agora bem ao gosto hollywoodiano. Mas o que interessa neste post é “a trilogia do apartamento”, outra ótima contribuição desse enfant terrible, nascido na França, de ascendência polonesa, e que hoje vive entre o exílio e premiações sem fim.
Take three: 1976 – O inquilino (The tenant): quase dez anos se passam desde o último “apartamento” personificado de Polanski. Trelkolvsky (Roman Polanski) é um polonês que vive na França. Ao mudar-se para um novo apartamento, descobre que a inquilina anterior, uma jovem muito bonita (Isabelle Adjani) havia se suicidado, jogando-se da janela. Entre descobertas assustadoras, pouco a pouco, ele se torna obsecado pela história da moça. Do mesmo modo, começa a desconfiar dos vizinhos, afundando na paranoia – talvez – de que ele seja a próxima vítima. A solidão atroz do personagem revela o mesmo demônio que existe nos demais filmes da trilogia, fazendo com que o medo atropele a razão, enquanto o homem vive em uma caixa chamada apartamento, rodeado por olhos estranhos.
só assisti, e várias vezes, "O bebê de Rosemary", um dos melhores filmes de terror já feitos. Fiquei curioso para assistir os outros.
ResponderExcluirSão maravilhosos, mas ainda acho "O bebê de Rosemary" insuperável. Bom demais!
ResponderExcluirSão maravilhosos, mas ainda acho "O bebê de Rosemary" insuperável. Bom demais!
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