"Quando coisas ruins acontecem, as pessoas ao seu redor ficam tipo, ‘vai ficar tudo bem, lamento que isso tenha acontecido', E, na verdade, às vezes é bom dizer: ‘isso foi uma merda, foi horrível e é injusto'. Esse era o tipo de emoção que eu queria traduzir nessas músicas". Quem ouve o pop sofisticado, muitas vezes agridoce, e cantado com a voz aveludada da britânica Rachel Chinouriri, em sua estreia What a Devastating Turn of Events, talvez não imagine a densidade de suas letras e mesmo a relevância de seus temas. Em linhas gerais há uma leveza nostálgica que conduz o ouvinte entre palminhas, assobios e uma sonoridade que se equilibra bem entre o R&B, o soul e o indie rock, que fazem tudo soar acessível. É aquele disco gostoso, com pontes e refrãos que flanam com facilidade. Basta uma ou outra audição pra memorizar as canções. Como no caso, por exemplo, de Robber, balada sombria que tem como pano de fundo a história de um casal que perde um bebê. Coisas ruins acontecem. E são uma merda - como ela disse no material de divulgação.
Nascida em Londres, a artista de apenas 26 anos é filha de pais emigrados do Zimbábue. E ainda que pudesse ser convidativo em termos de "mercado", tornar sua música apenas uma excentricidade para um público médio e branco ávido por sons alternativos de fora dos grandes centros, Rachel cresceu ouvindo Kings of Leon, Phoenix e Coldplay - e é interessante notar como todas essas bandas aparecem salpicadas, aqui e ali, como influências não tão óbvias. Nas letras, as experiências pessoais se mesclam com narrativas familiares - o que resulta em um projeto complexo e heterogêneo em que guitarras mais velozes se misturam com sintetizadores econômicos, sempre prontos a explodir mais adiante. Canções sobre sensação de não pertencimento (o ótimo single The Hills), a respeito de amores não correspondidos (All I Ever Asked), sobre autoimagem e aceitação (I Hate Myself) ou mesmo suicídio (como na sombria faixa-título) se mesclam para formar um conjunto irresistível de uma das artistas mais promissoras de atualidade. Não deixe de ouvir.
Nota: 9,0
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