quinta-feira, 5 de outubro de 2023

Tesouros Cinéfilos - A Morte lhe Cai Bem (Death Becomes Her)

De: Robert Zemeckis. Com Meryl Streep, Goldie Hawn, Bruce Willis e Isabella Rossellini. Comédia / Fantasia, EUA, 1992, 103 minutos.

Uma comédia divertidamente sombria que, num olhar mais atento, nem parece assim tão datada. Assim é o clássico noventista A Morte lhe Cai Bem (Death Becomes Her) - filme de Robert Zemeckis, estrelado por Meryl Streep, Goldie Hawn e Bruce Willis. No centro da narrativa fantasiosa, a busca pela eterna juventude - em uma época em que não era tão comum ouvirmos falar de ácido hialurônico, sérum ou toxina botulínica. A trama parece beber na fonte de clássicos kitsch como O Que Terá Acontecido a Baby Jane? (1962), ao nos apresentar duas protagonistas que rivalizam - no caso, aqui, pelo amor do doutor Ernest Menville (Willis). O ano é 1978 e a superestrela da Broadway Madeline Ashton (Streep), do alto de seus quarenta e poucos anos, já não parece ter o brilho polido de seus anos de ouro. O que não lhe impedirá de simplesmente "roubar" Ernest da aspirante a escritora que nunca aconteceu (ao menos até aquele momento) Helen Sharp (Hawn).

Um primeiro salto temporal de sete anos nos apresentará a uma Helen obesa, frustrada e com um inconsequente comportamento autodestrutivo - o que evidenciará o fato de que ela ainda não superou o episódio ocorrido anos atrás, mesmo com uma série se sessões de psiquiatria (e, aqui, é a parte em que a obra não envelheceu assim tão bem, já que em projetos do tipo e daquele período, a única meta de vida pra uma mulher de meia idade parecia ser arranjar um bom casamento). Um novo avanço de sete anos no tempo nos mostrará uma Madeline abraçando a decadência, vivendo as custas do marido que, de cirurgião bem sucedido, é convertido em uma espécie de agente funerário que faz reconstrução e maquiagem de pessoas mortas. Um convite de Helen à Madeline para o lançamento de seu novo livro gerará o esperado reencontro que movimentará a narrativa. Madeline pretende estar impecável e, após ser descartada por um jovem amante, fica sabendo da existência de uma clínica meio secreta em que atua uma certa Lisle Von Rhuman (Isabella Rossellini) - uma socialite enigmática e rica, que é especialista em rejuvenescimento.

Madeline reluta num primeiro momento, mas ao se deparar com uma Helen deslumbrante, magra, jovial e cheia de vida - e já estando próxima dos 50 anos -, em seu sarau, ela não hesita em ir para a misteriosa clínica de Lisle. No espaço - que tem aquele DNA anos 80/90, com direito a homens cabeludos à moda rock stars do período, de roupas justas e peitorais definidos - a protagonista tomará um elixir que promete eterna juventude. Tudo com uma condição: a de dez anos depois desaparecer dos olhos do público, já que ela não mais envelhecerá. Só que a coisa começa a desandar quando, após uma discussão em casa com Ernest, Madeline sofre um "acidente", rola escada abaixo e... morre. Só que não, já que o elixir já está fazendo efeito! Em paralelo, o plano de Helen era justamente seduzir o seu ex para dar cabo da atual. Claro, que tudo não passará de desculpa para um sem fim de instantes de humor físico, de discussões sobre os limites da busca pela juventude acima de tudo e até mesmo sobre a máquina trituradora de estrelas que, ao envelhecerem, veem os papeis importante escassearem.

O resultado é uma verdadeira coleção de piadas divertidas sobre morte (ou vida eterna), com Madeline e Helen se alternando em uma caçada de gato e rato na tentativa de aniquilar a adversária - sem sucesso já que, como descobriremos mais adiante, Helen também bebeu da poção oferecida por Lisle, o que explicaria a sua pele viçosa, seu olhar penetrante e o corpo sem sinal algum de flacidez. Aliás, uma das mais inesquecíveis sequências dessa obra-prima da Tela Quente é justamente aquela em que Madeline atira em Helen, abrindo um buraco gigantesco em sua barriga. Com o trio central no auge e um Robert Zemeckis claramente disposto a surfar na fama alcançada em projetos como a trilogia De Volta Para o Futuro e Uma Cilada Para Roger Rabbit (1988), a produção venceria o Oscar na categoria Efeitos Visuais, sendo até hoje lembrado pelas eficientes cenas geradas por computador. Nostálgico, grotesco de uma forma apenas hilária e sem nenhuma pretensão de profundidade, essa é daquelas experiências prazerosas, que sempre valem ser recordadas.


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