De: Richard Curtis. Com Domhnall Gleeson, Rachel McAdams, Bill Nighy, Margot Robbie e Tom Hollander. Comédia romântica / Ficção científica / Drama, Reino Unido, 2013, 124 minutos.
Reassistindo Questão de Tempo (About Time) acho que ficou mais tranquilo entender por quê as pessoas tanto amam o filme dirigido por Richard Curtis - um roteirista de mão cheia quando o assunto são as comédia românticas. Mistura de ficção científica sutil com drama juvenil sobre a busca por um amor pra chamar de seu, a obra parece ser muito mais um elogio à oportunidade de viver, uma homenagem aos pequenos instantes de felicidade, aos prazeres mundanos e a busca pela simplicidade em um cotidiano que, ao cabo, é apenas isso mesmo, o cotidiano. A rotina. A repetição. Parece até meio brega, meio papo de coach - com suas apresentações de slides e frases de efeito que se pretendem mais transformadoras do que efetivamente são. E esse filme nem é o primeiro a fazer isso, evidentemente. Mas o caso é que vivemos tempos tão brutos - de tanto ódio, de tanta intolerância - que parar pra assistir a uma obra tão cheia de carisma e de boas intenções, só faz bem.
Ou vai ver que essa era apenas a produção que precisávamos em um domingo de noite, em que uma nova semana se avizinha, quando a última sequer parece ter sido deixada pra trás. Na trama somos apresentados a Tim Lake (Domhnall Gleeson), um jovem morador do Sul da Inglaterra que, prestes a completar 21 anos, recebe de seu pai James (o sempre ótimo Bill Nighy), uma notícia surpreendente: a de que os homens da família possuem a habilidade de voltar no tempo, para reviver momentos ocorridos anteriormente. Mas James alerta que só é possível retornar para ocasiões em que eles estavam presentes - "não posso voltar pra assassinar Hitler", exemplifica, bem humorado. O pai sugere ao jovem utilizar a habilidade para conquistas financeiras, que possam lhe dar conforto ou fama. Tim resolve usá-la para um motivo mais prosaico, mas bastante comum na idade em que está: melhorar a sua vida amorosa.
É claro que, assim como em outros projetos de loops temporais ou de manipulação do espaço-tempo, Tim terá a oportunidade de refazer seus eventuais encontros - sendo o primeiro justamente com a estonteante Charlotte (Margot Robbie), uma amiga de sua irmã Kit Kat (Lydia Wilson). Aliás, importante mencionar que Kit Kat é uma jovem cheia de entusiasmo pela vida, carinhosa e vibrante (o que renderá um sem fim de sequências bonitas, sempre que ela estiver em cena). Em Londres para estudar Direito, o jovem irá morar com o egocêntrico e solitário escritor de peças de teatro Harry (Tom Hollander), um amigo de seu pai. E será nesse novo cenário que ele conhecerá a editora de livros Mary (Rachel McAdams), uma tímida fã de Kate Moss, que pode ser o caminho pra superar o trauma provocado por Charlotte - alguém aparentemente impossível de conquistar, qualquer que seja a manipulação temporal (aliás, um dos tantos instantes de aprendizado para o rapaz).
Com idas e vindas no tempo para pequenos ou grandes ajustes - nas amizades, nos romances, nas relações familiares -, a obra se converterá aos poucos em uma grande fábula sobre a busca pela felicidade, mesmo em uma vida considerada comum, ordinária, sem grandes acontecimentos. E, nesse sentido, talvez não seja por acaso que instantes como aqueles em que Tim e James jogam tênis de mesa, em que Kit Kat precisa superar um trauma ou mesmo aquele em que Harry obtém sucesso com sua peça de teatro sejam tão comoventes. São pequenos instantes que preenchem a existência de significados - assim como poderia ser uma ida pra praia em família, uma conquista relacionada ao trabalho, alguma piada divertida envolvendo o tio D (Richard Cordery) ou o nascimento dos filhos. Em alguma medida, essa é uma obra aconchegante, que não carece de grandes acontecimentos ou reviravoltas cheias de impacto para mexer conosco. O conceito de viagem no tempo? Bom, talvez seja apenas uma metáfora para o nosso crescimento pessoal. Para melhorarmos como pessoas a cada nova oportunidade - o que fica evidente diante da sutileza do experimento da viagem em si, menos surrealista do que se poderia imaginar. Tá disponível na Amazon Prime e vale ser resgatado.
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