"Eu sou o garoto de Stranger Things / (Menino, menino, de Stranger Things) / Eu não sou a garota que você pensa." Talvez um pouco mais direta e muito mais confiante do que nos trabalhos anteriores - especialmente na abordagem de temas ligados à identidade de gênero e a expressão da subjetividade queer. Mais ou menos assim pode ser resumido o efervescente Me Chama de Gato Que Eu Sou Sua, terceiro registro da carioca Ana Frango Elétrico. Preservando a essência daquilo que foi apresentado especialmente em Little Electric Chicken Heart - o elogiado disco de 2019, que era marcado pela diversidade de estilos e pela ironia fina dos versos -, aqui, a cantora e compositora mantém o diálogo com a tradição da música brasileira, sem ignorar a importância do diálogo com o moderno, cruzando referências, indo do boogie, passando pelo pop sofisticado, pela MPB classuda e pela dance music de arranjos cintilantes.
Do início, com a explosiva Electric Fish, que parece saída das pistas setentistas à conclusão com a divertida Dr. Sabe Tudo, o trabalho, de pouco mais de meia hora de duração, representa ainda um ponto de maturidade, especialmente na hora de expor sentimentos de amor LGBTQIA+. De Stranger Things - cantadas em inglês, como um caminho para a busca de novos mercados -, passando por Dela e, especialmente, Camelo Azul (Fumando um Dunhill / Me dá um / Só mais um / Seu cheiro me lеmbra meu lado feminino / Mas hoje sou mеnino), o disco vai da economia à expansão em questão de segundos, permanecendo claro e coeso durante todo o tempo. Como disse o site The Needle Drop em sua elogiosa resenha, atualmente Ana é um daqueles nomes que consegue soar como ela mesma, independente do gênero que esteja explorando. O que pode ser percebido em canções distintas como a cinematográfica Nuvem Vermelha, passando pela indie Coisa Maluca, até chegar ao art pop de Dr. Sabe Tudo.
Nota: 9,0
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