"Este álbum é dedicado à luz da minha vida, meu querido parceiro e melhor amigo Evans Richardson, que faleceu em abril. Ele era uma pessoa absolutamente preciosa, rara, cheia de vida, excepcional em todos os sentidos". A mensagem deixada por Sufjan Stevens no Tumblr, no dia do lançamento de seu nono disco de estúdio, Javelin, dá a pista: em meio a beleza quase mística de suas melodias - muitas delas econômicas, feitas apenas com violão ou piano -, há uma profundidade poética que emerge da dor. Stevens está de luto e não é a primeira vez. Já havia sido assim no elogiadíssimo Carrie & Lowell (2015), que ele concebeu como uma homenagem à sua falecida mãe. E agora, com o retorno ao que ele sabe fazer de melhor - no caso, as canções contemplativas, de instrumentação simples, acústica - ele entrega uma nova coleção de músicas bastante diretas, sem firulas. E dilacerantes, claro.
Evidentemente que se engana quem pensa que economia signifique desatenção. Muito pelo contrário, já que a maioria das canções inicia intimista, com o vocal em um falsete estilo Simon & Garfunkel introduzindo temas complexos de amor, de perdas e de sofrimento em meio à incertezas que, mais adiante, crescerão entre corais de vozes, efeitos eletrônicos majestosos e até refrãos grandiosos. Um bom exemplo desse expediente pode ser encontrado na bela Will Anybody Ever Love Me?, uma séria candidata a figurar nas listas de melhores músicas do ano. Partindo de um dedilhado de cordas, vai se expandindo de forma caleidoscópica, enquanto os versos de uma honestidade comovente (Alguém um dia me amará? (Me ame) / Por boas razões / Sem queixas, não por esporte) vão acrescentando camadas. O resultado é bucólico e etéreo, evocativo e sonhador. Um dos melhores discos da carreira de Sufjan.
Nota: 9,0
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