De: Sam Mendes. Com Olivia Colman, Colin Firth, Micheal Ward e Toby Jones. Drama / Romance, EUA / Reino Unidos, 2022, 114 minutos.
Vejam bem, eu não tenho nenhum problema com filmes que tentam capturar a nossa atenção, inserindo uma quantidade maior de temas em sua estrutura. Isso pode ser bom, se bem executado. Só que se você quer falar de racismo, me parece um pouco rasa uma sequência em que Hilary entrega à Stephen (Michael Ward), após este ter sido brutalmente agredido por um grupo de skinheads que participavam de uma motociata (sim, a vida imita a arte), um disco dos britânicos do The Specials, banda famosa por ter integrantes brancos e pretos. "Brancos e pretos se juntando, é o que torna tudo normal", comenta a personagem de Colman enternecida. É sério mesmo que uma discussão tão importante vai ser reduzida ao chavão do "eu não enxergo cor aqui"? E, ok, esse poderia ser um recorte dentro da narrativa, mas o problema é que o assunto praticamente some no restante do tempo. É sobre isso que estamos falando? Sobre skinheads, Margaret Thatcher e os tempos de intolerância?
Alguém poderá afirmar - e tudo bem quanto a isso - que tanto Hilary quanto Stephen são almas isoladas em busca de algum tipo de conforto mútuo, de empatia, até de amor (ou de amizade). O que torna compreensível a aproximação entre ambos. Ela é a gerente do cinema, que á abusada sexualmente (e psicologicamente) por seu chefe. Uma mulher solitária que, entre uma consulta e outra com o psiquiatra, tenta se adaptar aos medicamentos com lítio. Os motivos de ela lutar contra o uso dos fármacos? Talvez o momento. Os motivos de ela se insurgir contra a misoginia em um ato meio isolado durante a narrativa? Não sei, pareceu mais um elemento perdido lá no meio. É um filme sobre o machismo? Ou foi só a inserção de mais um assunto importante no meio do nada? Qual a história, afinal, de Hilary? Qual o seu passado? O que lhe move? São temáticas e contextos importantes que parecem estar sempre no meio do caminho. Do quase.
Em mais uma sequência meio constrangedora ela tem um surto quando está passando um dia na praia com Stephen. Aos berros ela destroi os castelos de areia construídos por eles. É um projeto que discute a fragilidade do ser humano - sua solidão, suas dores nunca pronunciadas, seus segredos dificilmente verbalizados -, a partir da alegoria do castelo que, tão facilmente, cai? Sei lá, a meu ver esse é um filme apenas estranho - como é estranho o comportamento de Hilary que, sim, talvez tenha esquizofrenia, tenha transtorno bipolar ou outro problema psicológico qualquer e que talvez seja resultado do ambiente tóxico que a envolve. Mas, não sei, é uma obra sobre isso? Sobre pessoas com gostos musicais questionáveis? Sobre pais que abandonam filhos (mais um tema que surge meio perdido lá no meio)? E se não bastassem tantas decisões questionáveis, o filme ainda se encerra com a leitura de um poema. Enquanto os créditos subiam só conseguia pensar no desperdício generalizado de talentos - do diretor aos atores, passando pelo diretor de fotografia (o oscarizado Roger Deakins) até chegar a dupla Trent Reznor e Atticus Ross, responsáveis pela trilha sonora. Não é à toa que flopou na temporada.
Nota: 3,0
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