sexta-feira, 5 de maio de 2023

Pitaquinho Musical - Everything But The Girl (Fuse)

"Você canta para curar o coração partido? / Ou você canta para começar a festa?". Sim, a letra de Karaokê, canção que fecha Fuse do Everything But the Girl, pode até aludir a uma noite aleatória de um bar de São Francisco, onde os clientes se alternam entre a energia vigorosa de Elvis Presley e a sutileza poética de Bob Dylan. Ainda assim não deixa de ser interessante notar como os versos combinam direitinho com aquilo que encontramos desde sempre nas entranhas da música proposta pelo duo britânico Tracey Thorn e Ben Watt. Inferninhos lotados que contrastam com as esquinas solitárias, uma festa fritada às 17h com o sol a pino paradoxalmente alto, ter alguém em casa pra amar mesmo após uma madrugada intensa e hedonista. Há, ao cabo, um quê de orgânico e tecnológico em igual medida na coisa toda.

 


Nesse sentido, é possível afirmar que as canções da banda evocam justamente essa paisagem contrastante em que a festa acontece, enquanto os instantes de introspecção ecoam internamente. "Eu gosto do escuro / Eu gosto do humor" lembra Thorn nos versos da já citada Karaokê. "Eu sinto sua falta / Como os desertos sentem falta da chuva" já cantava a dupla na dançante (dançante?) e triste (triste?) Missing, seu maior hit. É a escuridão que se une às melodias hipnóticas. É o movimento e a contemplação. É cantar para sarar as feridas. Ou para celebrar. O EBTG ficou 24 anos sem lançar um novo trabalho - o último havia sido Temperamental (1999). E quando voltou, voltou como se nunca houvesse saído. Sem afetações. Sem invencionices. Sem forçar a barra tentando soar como algo que eles nunca foram. Apenas fazendo música. Mesclando gêneros. De forma orgânica. Fluída. Linda como sempre. Os fãs agradecem.

Nota: 8,5


Nenhum comentário:

Postar um comentário