De: Ben Affleck. Com Matt Damon, Ben Affleck, Jason Bateman, Viola Davis e Chris Tucker. Drama, EUA, 2023, 115 minutos.
Sim, esse é aquele tipo de filme que muito provavelmente vai cair nas graças de marqueteiros, coaches e de empreendedores que acordam às cinco da manhã para trabalhar enquanto os outros dormem. Será citado nas palestras de influenciadores que incentivam a meritocracia. Que defendem que o sucesso só depende de você. Mas fora tudo isso não dá pra negar: Air: A História por Trás do Logo (Air) é um excelente entretenimento! A obra dirigida por Ben Affleck - que pode até não ser lá grandes coisas como ator, mas que como diretor até que se sai (já tem até Oscar em categoria principal no currículo) - está disponível na Amazon Prime e conta a história de como a Nike saiu de uma marca bastante modesta no segmento de tênis para praticantes de basquete, para simplesmente a maior do ramo. Deixando a Converse e a Adidas no chinelo. A cartada? Um contrato polpudo com um certo Michael Jordan que, no começo dos anos 80, dava mostras que ia ser o maior de todos no esporte. Talvez em qualquer esporte.
Até o ano de 1984, a Nike era apenas a terceira colocada no mercado de calçados para basquete - sua marca estava muito mais atrelada aos praticantes de corrida. Na época já existia o famoso logo - de forma muito rápida Phil Knight (o próprio Affleck) explica que ele funcionava como uma espécie de "onomatopeia visual" para o som. O Just do it já era o slogan, com todas as suas controvérsias e ambiguidades. Mas ainda faltava um movimento mais ousado. Que evitasse, inclusive o fechamento da Divisão de Basquete. E que, ao cabo, pudesse elevar a marca a um outro patamar. Na trama acompanhamos um caçador de talentos do esporte chamado Sonny Vaccaro (Matt Damon), que é incumbido pelo diretor de marketing Rob Strasser (Jason Bateman) a localizar aquele que possa ser o novo porta-voz dos tênis do segmento de basquete da Nike. Uma tarefa inegavelmente complicada.
O draft de 1984 apontava para Jordan como uma opção, mas havia um problema: apaixonado pela Adidas, o atleta parecia já estar com os dois pés na marca alemã. E, pior do que isso, como lembra um dos diretores (e atual vice-presidente da empresa) à época Howard White (Chris Tucker, num retorno afetuoso, já que ele é amigo pessoal de White), "homens negros não praticam corrida". Ou ao menos não praticavam naquele época. O que também baixava as expectativas quanto a possibilidade de contar com o futuro astro. E ainda havia, naturalmente, um terceiro ponto: em baixa na Divisão de Basquete, como poder contar com um futuro atleta de ponta com um orçamento modesto. Claro que a estratégia elaborada por Sonny e seus companheiros - com suas idas e vindas e discussões de bastidores em salas de escritório fechadas - será um dos atrativos. O que envolverá a aproximação, especialmente da mãe de Jordan, Deloris (Viola Davis, com aquela cara de possível nominada como Atriz Coadjuvante no próximo Oscar).
Recheado de citações culturais ligadas à época, a obra é um deleite em matéria de desenho de produção, com telefones "móveis" gigantescos, carros e figurinos com o DNA dos anos 80 (que Matt Damon parece vestir com uma pontinha de orgulho, inclusive no que diz respeito à barriga levemente saliente). A trilha sonora, então, é um espetáculo a parte, indo do kitsch nostálgico com ZZ Top e REO Speedwagon, passando por clássicos da época como Money for Nothing do Dire Straits (aliás, a abertura do filme é sensacional!) e Born in the USA, do Bruce Springsteen, até chegar a alternativos meio inesperados, como o Violent Femmes (e Blister in the Sun era figurinha fácil nas rádios descoladas da época). Divertida e com um carisma sem fim, a obra explora um pouco mais da figura considerada, até bem pouco tempo atrás, bastante misteriosa de Knight, um dos fundadores da corporação. Prestando ainda uma linda homenagem à Jordan e a seus familiares que, com a criação de um verdadeiro ícone do estilo, viriam a contribuir com centenas de crianças e jovens que sonham em seguir os passos do ídolo.
Nota: 8,0
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