segunda-feira, 3 de outubro de 2022

Novidades em Streaming - Operação Cerveja (The Greatest Beer Run Ever)

De: Peter Farrelly. Com Zac Efron, Russel Crowe, Bill Murray e Ruby Ashbourne Serkis. Comédia / Drama / Guerra, EUA, 2022, 126 minutos.

Uma ideia estúpida que serve como pano de fundo para denunciar a estupidez da guerra. Mais ou menos assim pode ser resumida a divertida e melancólica experiência com Operação Cerveja (The Greatest Beer Run Ever) - nova obra de Peter Farrelly, que venceu o Oscar de Melhor Filme em 2019, com o divisivo Green Book: O Guia (2018). Na trama retornamos para a Nova York do ano de 1967, no auge da Guerra do Vietnã. É nesse contexto de debate sobre a (falta de) eficiência da política anticomunismo - sempre ela - do presidente norte-americano Lyndon B. Johnson, que o ex-fuzileiro naval Chickie Donohue (Zac Efron) tem uma ideia estapafúrdia: e se, como forma de dar algum suporte aos amigos que foram recrutados para o front de batalha, ele fosse até o Vietnã para levar umas latas de sua cerveja norte-americana preferida? 

Sim, o que começa como um desatino patriota típico daquele "doidinho de bairro" logo toma forma após o pai de Chickie, de alguma maneira, incentivá-lo. Ele, afinal, não aguenta mais a vida fácil do jovem que se ocupa de bebedeiras homéricas em suas férias, acordando após o meio-dia para... novas bebedeiras homéricas. No bar local, operado pelo Coronel (Bill Murray, em especialíssima participação), as cervejadas servem para aplacar as dores a respeito das frequentes notícias de mortes de amigos e conhecidos que não param de chegar do Vietnã. Um amigo próximo de Chickie, que combatia no País asiático, é morto - o aviso vem de Christine (Ruby Ashbourne Serkis) que, junto a um grupo de pacifistas, participa de protestos contrários ao conflito. O que para Chickie, Coronel e os demais frequentadores do bar se constitui em uma afronta aos herois, que morrem servindo à nação.

E, particularmente, aqui está um dos pontos que mais gostei na obra de Farrelly. Sim, porque por mais caricata que possa ser a figura do jovem xucro, tolo, que é incapaz de analisar as questões políticas, sociais e culturais de seu País com um pouco mais de profundidade, o fato é que sujeitos como Chickie existem aos montes por aí. Que são contra a ciência, contra a imprensa, contra a educação. Basta pensar, por exemplo, na sequência em que o protagonista flagra sua irmã em meio a uma manifestação que cobra do governo Johnson alguma explicação sobre o fato de estarem sendo enviados milhares de jovens para a morte praticamente certa, em uma batalha completamente sem sentido. Ele vai até ela e briga com os pacifistas que, de acordo com a sua impressão enviesada, estariam desonrando a memória dos mortos (sendo que um protesto do tipo serve justamente para o contrário). Eles não estão defendendo a América contra os "vermelhos"?

A tolice de Chickie retornará em outros momentos, como naquele que envolve a chegada ao Vietnã, onde ele argumenta com um grupo de jornalistas que eles só trazem "más notícias" para os americanos no que diz respeito à guerra - e nada que pudesse elevar à moral do povo. Para quem se alimenta de teorias conspiratórias, de pânicos moral e comunista, da xenofobia e do medo, se deparar com a verdade pode ser algo complicado. E é justamente isso, como vocês bem podem supor, que ocorrerá com Chickie nos arredores de Saigon: o que inicia, ao cabo, como uma peregrinação cercada de um clima quase festivo, com o determinado protagonista encontrando alguns de seus amigos em quarteis generais e em outros espaços do front, aos poucos dará lugar a um choque de realidade que o fará revisar suas convicções. Mais ou menos o que acontece com o personagem de Viggo Mortensen em Green Book. Sim, pode parecer bobinho ou excessivamente estereotipado. Mas quem abraçar a insensatez do ato em si com alguma dose de suspensão da descrença, se deparará com uma obra que entretém ao misturar sensibilidade cômica, aventura e história freestyle. E ainda com um fiapo de otimismo. Nos tempos duros em que vivemos, pode ser uma boa.

Nota: 8,0


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