quinta-feira, 20 de outubro de 2022

Tesouros Cinéfilos - Vidas em Jogo (The Game)

De: David Fincher. Com Michael Douglas, Deborah Kara Unger e Sean Penn. Drama / Suspense, EUA, 1997, 128 minutos.

Lançado entre Seven: Os Sete Crimes Capitais (1995) e Clube da Luta (1999), Vidas em Jogo (The Game) pode até ser considerada uma obra menor na filmografia do diretor David Fincher. O que não significa que ela deve ser ignorada. Aliás, muito pelo contrário: revisitando o filme, percebi que ele ainda rende bastante, com seu roteiro intrigante, cheio de surpresas e de reviravoltas. E que, ao cabo, ainda faz refletir um tantinho sobre o vazio de uma vida que é pautada apenas por conquistas financeiras ou ambições que envolvem o trabalho. Na trama, o protagonista, o milionário Nicholas Van Orton (Michael Douglas) é um sujeito solitário, que sente um imenso vazio no dia em que completa aniversário de 48 anos - a despeito das acaloradas reuniões sobre mercado de ações, novos investimentos, clientes em potencial e até demissões necessárias. O momento mais interessante do seu dia? Se atirar no sofá de posse de um copo de conhaque, assistindo um noticiário genérico e especulativo ao estilo da Fox News.

Pra sair do marasmo, o seu irmão Conrad (Sean Penn) o convida para jantar. Recém-saído de algum tipo de rehab, ele presenteia Nicholas com uma espécie de cartão de uma corporação que parece lhe dar acesso a algum tipo de novo divertimento - algo no limite entre um jogo de realidade virtual e uma experiência imersiva, que é ofertada por uma empresa chamada Serviços de Recreação do Consumidor. Inicialmente relutante, Nicholas aceita a ideia - especialmente por se sentir atormentado pelo fato de ter sido justamente aos 48 anos, que seu pai tirou a própria vida, em circunstâncias mal explicadas. Sua única "amiga", sua ex-mulher, lhe telefona de forma protocolar, quase à meia-noite para felicitá-lo. Mas ela já está em um novo casamento, a espera do segundo filho. Perturbado pelo isolamento, o homem decide ir atrás da empresa em questão. E, bom, temos o nosso filme.

 

Sem concessões na hora de burlar os limites entre o real e o imaginário, a narrativa conduz Nicholas e uma espiral de acontecimentos: desconhecidos que, aparentemente, querem lhe assassinar, segredos sendo revelados, agressões. Um homem que sofre um ataque em plena rua. Perseguições. Em certa altura, desnorteado, o protagonista acorda em um cemitério isolado no México. Quem está por trás de tudo isso? Ele está no jogo? Ter fornecido uma série de dados e informações pessoais para a empresa que oferece os serviços foi uma boa? Sendo um rico banqueiro ele não despertaria outros interesses? Tudo piora quando Conrad aparece meio que, do nada, garantindo que a coisa toda desandou: que tudo não passava de fachada e que todos ali estão em perigo. E, mais do que isso, suas finanças estão comprometidas. E a presença da misteriosa garçonete Christine (Deborah Kara Unger) não parece ajudar muito. De que lado desse "jogo" ela está?

Em alguma medida esse é mais um daqueles exemplares com o DNA da segunda metade dos anos 90 - contexto em que uma série de filmes com grandes plot twists foram lançados, sempre com aquela fotografia azul acinzentada de cidade grande, levemente saturada, que se soma a uma edição dinâmica, em que vale prestar atenção aos mínimos detalhes na tentativa de montar o quebra-cabeças corretamente. Outro ponto de destaque é a ótima - e minimalista - trilha sonora de Howard Shore, que contribui de forma genuína para o senso de tensão um tanto claustrofóbico que evoca da tela. Claro que em uma obra do tipo uma boa dose de suspensão da descrença cai bem - especialmente diante de um outro exagero ou contradição do roteiro. Mas quem mergulhar de cabeça na narrativa encontrará aqui uma experiência tensa, levemente cômica e que parece nos fazer lembrar o tempo todo de que, em meio a situações limite, de nada vai adiantar estar calçando um par de sapatos que custa mil dólares. Tá lá na Amazon Prime. Vale conferir.


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