quinta-feira, 13 de outubro de 2022

Pitaquinho Musical - Alvvays (Blue Rev)

Vamos combinar: não tem como não se apaixonar por uma banda que fala da dor de uma separação por meio de versos, como "À noite eu atendo ligações de operadores de telemarketing / Na esperança de ouvir seu sotaque". E a real é que esse senso meio autodepreciativo, de quem vai lá e se humilha até onde dá, é algo que faz com que o ouvinte do Alvvays se identifique facilmente. Em seu terceiro registro, chamado Blue Rev, o grupo canadense repete o combo do pop primaveril, aliado a vocais levemente enfumaçados e ao clima de inferninho lo-fi de fim de madrugada para entregar uma nova coleção de canções honestas, sinceras até demais, sempre embaladas pelo vocal agridoce da cantora Molly Rankin. Em Tile By Tile, a música do verso citado acima, ela conclui a estrofe dizendo que entregou seu cartão de crédito para o atendente que está do outro lado da linha - o tipo de distorção existencial meio torta, quase cínica, que dialoga com as melodias espontâneas do trabalho.




Em linhas gerais esse é daqueles trabalhos nada complexos, mas que ao mesmo tempo trafegam no limite entre o indie e o power pop. Aqui e ali o perfume juvenil retorna, seja na onipresença de um sujeito que é tão conectado às redes sociais que não deixa nada sem resposta (Very Online Guy), passando pela jovem que tenta recolher os cacos de um término (After the Earthquake) e que "chora em cima de um milkshake" enquanto dirige, até chegar a metafórica Bored in Bristol sobre uma espera por algo que parece nunca acontecer. Nesse sentido, as paisagens propostas pelo Alvvays soam cotidianas, como que extraídas de um livro adolescente, em que uma prosaica farmácia será o local inesperado de um encontro com a irmã do ex. Maduro, cheio de personalidade e tão bom quanto o anterior, Antissocialites - nosso quarto colocado na lista de Melhores de 2017 -, o caso é que Blue Rev é o Alvvays em sua melhor forma.

Nota: 8,5



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