De: Joseph L. Mankiewicz. Com Laurence Olivier e Michael Caine. Comédia / Suspense, Reino Unido / EUA, 1972, 138 minutos.
Um dos filmes mais pitorescos lançados nos anos 70. Assim pode ser resumida Trama Diabólica (Sleuth), última obra lançada pelo diretor Joseph L. Mankiewicz - de A Malvada (1950). Cômica e corrosiva a experiência é cheia de reviravoltas, apostando no cinismo dos diálogos e nas interações com o único cenário como elementos que dão força à narrativa. Na trama temos apenas dois personagens. E um casarão ao mesmo tempo suntuoso e decadente. Nessa residência mora o consagrado escritor de histórias policiais Andrew Wyke (Laurence Olivier) - sujeito de hábitos excêntricos, condição que é reforçada pela curiosa decoração da casa (repleta de bonecos, de engenhocas e de jogos aleatórios de tabuleiro, o que forma um ambiente tão colorido quanto "poluído"). No outro extremo está o modesto cabeleireiro Milo Tindle (Michael Caine), que é convidado pelo primeiro para uma visita.
Ocorre que ambos têm algo em comum: a paixão pela mesma mulher. Ou será que não? Andrew é casado e descobre que sua esposa está tendo um caso com Milo. Sem cerimônias, o anfitrião revela já estar a par da traição. E propõe ao seu convidado uma espécie de "jogo" em que ambos sairão ganhando. Ocorre que Andrew está cansado da vida doméstica - e do matrimônio. E de ter de atender as extravagâncias e caprichos de sua mulher. Já Milo está na fase da paixão, mas ao mesmo tempo teme não estar a altura dos gostos sofisticados dela. Dessa forma, o marido propõe ao amante que este roube suas joias, vendendo-as após para um receptador de confiança (o que lhe garantirá uma boa cifra para iniciar a nova vida). Já o marido não sofreria prejuízo, uma vez que as joias estão no seguro. Não parece haver nenhuma chance de as coisas darem errado, né? É, mais ou menos.
Ao cabo, o grande problema estará no jogo de gato e rato perpetrado por ambos que tentarão, a todo custo, ludibriar um ao outro. Para o espectador é um roteiro interessante de se acompanhar pela imprevisibilidade. Até certa altura acreditamos que as coisas estão indo por um caminho e, quando vê, somos surpreendidos com uma mudança repentina de direção. Utilizando os objetos cênicos e o desenho de produção como um todo em seu favor, Mankiewicz cria as circunstâncias ideais para uma trama que assombra pelos contrastes - com seus marujos sorridentes e máscaras coloridas de palhaços -, mas que diverte com seus diálogos debochados, quase anárquicos. Instantes como os que Milo tanta "invadir" a casa fantasiado de palhaço, por exemplo, são histriônicos e caóticos, gerando um senso de ridículo que vai no limite da teatralidade.
Ao mesmo tempo, sequências mais tensas, como aquelas em que Andrew revela o plano por trás do plano também ajudam a manter um senso de suspense que surge inesperado em meio ao ambiente espectral e onírico do casarão. Tudo parece no limite do fantasioso, como bem poderia ser um dos livros do anfitrião. O que faz com que permaneça uma certa dúvida sobre o que estamos acompanhando. Tentando adivinhar ainda qual será a próxima maluquice. Com ótimas interpretações - que receberam indicações ao Oscar na categoria Ator -, o filme foi lembrado ainda entre os indicados para Direção, distinção que Mankiewicz receberia anteriormente por Quem É o Infiel? (1949) e pelo já citado A Malvada (1950). Meio esquecido nas listas de clássicos, Trama Diabólica foi lembrado no livro 1001 Filmes Para Ver Antes de Morrer. E, no ano que completa 50 anos de seu lançamento, vale ser (re)lembrado.
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