De: Jacques Audiard. Com Lucie Zhang, Makita Samba, Noémie Merlant e Jehnny Beth. Drama, Franla, 2021, 105 minutos.
Somos seres complexos. Cheios de camadas, de surpresas. De imprecisões. Agimos sem pensar. Pensamos sem agir. E, de alguma forma, Paris, 13º Distrito (Les Olympiades) nada mais é do que uma grande coleção de instantes sobre pessoas que, assim como nós, parecem estar em busca da felicidade em meio a um universo de incertezas. Pense sobre a última vez que você se apaixonou. Ou quando se percebeu arrebatado pelo amor. Como fazer dar certo? Quais os passos corretos? Devo verbalizar logo o que sinto? Aguardar? No mundo tudo é tão corrido, tão urgente, tão tecnológico, tão pueril. Hoje as oportunidades parecem infinitas. As ofertas surgem por todos os lados. Pessoas, experiências, objetos. De que forma se conectar efetivamente a algo? Aliás, é preciso se conectar? Às vezes não parecemos apenas um coletivo batendo cabeça em meio a fiapos de felicidade que surgem de tempos em tempos nesse mar de insatisfações que parece ser a existência?
Ok, talvez o novo filme do diretor Jacques Audiard, inspirado nos quadrinhos do cartunista Adrian Tomine, nem seja tão profundo assim - por mais que ele tenha nos deixado meio mal acostumados com as experiências vigorosas de O Profeta (2009) e Ferrugem e Osso (2012). Mas o caso é que aqui me parece meio impossível não divagar sobre essa espécie de caos cotidiano que nos move. Tudo parece ordenado? Só parece. Quando Camille Germain (Makita Samba) chega a casa de Émilie Wong (Lucie Zhang) interessado no quarto para alugar que a jovem oferece, a gente percebe que há um equívoco no diálogo entre eles: "eu esperava que viesse uma mulher", explica Émilie. "Sim, eu me chamo Camille, mas sou um homem" retruca o professor universitário. O que era pra ser um grande nada se converte de forma meio inesperada em uma relação que vai para além das negociações entre proprietário e locador. Não demora para que ambos, morando juntos, terminem na cama. Émilie se apaixona. Camille não parece interessado em compromisso.
E a forma como Audiard evidencia esse descompasso entre o casal não poderia ser mais realista: durante o sexo, a jovem que trabalha como operadora de telemarketing olha Camille nos olhos para dizer afirmar que ele está se apaixonando por ela. Mas é o contrário. E a dor de ser rejeitada naquilo que poderia ser uma relação das mais agradáveis - e saudáveis - se torna um grande baque para Émilie. Que descontará a sua raiva - se é que dá pra chamar de raiva - em um comportamento displicente no trabalho, que lhe levará à demissão, e a sessões de sexo com desconhecidos aleatórios que ela conhece em noitadas ou em aplicativos de relacionamentos. A fila anda rápido. Tudo é urgente. Camille, um tanto desiludido com a carreira acadêmica começa a trabalhar como corretor de imóveis. Local em que conhecerá Nora Ligier (Noémie Merlant), que tenta apagar de seu passado um episódio traumático na Universidade - local em que colegas de classe a confundiram com uma cam girl.
Trabalhando juntos, ambos se aproximarão, em meio a traumas revelados, sonhos quebrados, desvios de rota. A vida é meio assim, não muito previsível. A gente vai pra lá e poderia ter ido pra cá. Em certa altura, Nora resolve ir atrás de Amber Sweet (Jehnny Beth), a cam girl. Uma nova amizade se estabelece. A cumplicidade se amplia. Tudo conduzido de uma forma afetuosa, repleta de instantes transformadores, alegres, reflexivos, até oníricos. Em uma sequência, por exemplo, Émilie parece flutuar no ar, no dia seguinte a uma sessão de sexo intensa, cheia de paixão e de romance. Quem nunca? A fotografia em preto e branco confere elegância para as temáticas apresentadas pelo roteiro, ainda que reforce certa frieza da contemporaneidade. No centro, o amor - ou a falta de. E a permanente busca. Que pode estar onde menos esperamos. A vida é assim. Machuca. Especialmente pra quem é jovem. Mas ali adiante, posso garantir, já estaremos novamente entorpecidos.
Nota: 8,0
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