De: Werner Herzog. Com Klaus Kinski, Alejandro Repullés, Ruy Guerra, Del Negro e Peter Berling. Drama, / História, Alemanha / México / Peru, 1972, 100 minutos.
Aliás, escravizar os índios era parte do método adotado pelos conquistadores, tanto que na abertura do filme já nos deparamos com um comboio em que dezenas de prisioneiros incas marcham ao lado de seus algozes, evoluindo em meio a caminhos estreitos, lamacentos e de selva densa. Impedido de prosseguir por conta das dificuldades naturais - e pela escassez de suprimentos -, Pizarro escolhe Dom Pedro de Úrsua (Ruy Guerra) como o comandante de uma expedição com quatro jangadas que se lançarão rio abaixo na tentativa de reconhecer o território. Além de Ursúa, estará na viagem o nobre Don Fernando de Guzmán (Peter Berling), que representa a Casa Real da Espanha e o próprio Carvajal, responsável por levar a palavra de Deus à tripulação. Além de Aguirre, sua filha, e outros nobres ou nem tanto. E, bom, não é preciso ser nenhum expert pra saber que a coisa vai desandar.
O caos já começa quando uma das jangadas fica presa a uma espécie de redemoinho - com os integrantes amanhecendo mortos após um ataque dos índios. Para as demais jangadas a missão de reconhecimento também será trágica, com as dificuldades naturais tornando tudo mais complicado. E como desgraça pouca é bobagem, lá pelas tantas, Aguirre resolve fazer um motim contra Ursúa, tomando o comando da expedição. Flechas que surgem de todos os lados, balsas que afundam, animais que morrem. Doença, alucinação, paranoia. Um a um os integrantes da expedição vão padecendo. Enquanto Aguirre mantém o seu perturbador sonho de constituir um reino incestuoso com sua própria filha. Sendo incapaz de perceber o naufrágio - metafórico, alegórico - desse ideal. Cada vez mais delirante, o protagonista começa a ter alucinações. O que não o impedirá de parar a sua busca obsessiva, ambiciosa e violenta.
E são tantas as histórias de bastidores que dão conta das dificuldades de filmagem, que Herzog chegou a fazer um documentário, chamado Meu Melhor Inimigo (1999), sobre a sua relação conturbada com Kinski. E um dos melhores relatos, no livro 1001 Filmes Para Ver Antes de Morrer, dá conta de, quase ao final das gravações, Herzog ter impedido Kinski de ir embora do set, ameaçando atirar nele. Isso mesmo, ATIRAR! Em condições adversas, em locações remotas do Peru, a experiência mítica, onírica, nauseante, parece saltar da tela. As dificuldades são palpáveis. O sofrimento parece real. Um crítico alemão chegou a falar que a obra lembrava "uma pintura em movimento, inundada de cor e violência física" - o que é descrito n'O Livro do Cinema, da Globo Livros. Tudo isso parece ampliar o esplendor de uma obra que, de quebra, ainda analisa o absurdo da paranoia e da ambição humanas - o que é reforçado pela intepretação magnética e febril de Kinski.
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