De: Janicza Bravo. Com Taylour Paige, Riley Keough, Colman Domingo e Nicholas Braun. Drama, EUA, 2020, 90 minutos.
O primeiro filme da história com um roteiro baseado numa thread do Twitter. Esse é Zola (Zola), obra dirigida por Janicza Bravo que parte de um relato real - no caso um longo fio de 148 twits sobre uma noite insana, repleta de situações inesperadas e inusitadas envolvendo uma stripper e um convite para um trabalho que, bem, não era bem o que a dançarina esperava. A história verdadeira ocorreu em 2015 quando uma jovem chamada A'Ziah King fez uma sequência de postagens a respeito de um final de semana maluco na Flórida, com uma garota que ela tinha acabado de conhecer no restaurante em que trabalhava como garçonete. A ideia era viajar para o Estado na intenção de fazer dinheiro dançando em boates de strip. Só que não demora pra que a coisa saia do controle e passe a envolver cafetões, criminosos, clientes bizarros, tiros, mortes e uma série de plots que tornam tudo ainda mais estranho.
Produzido pela A24 - o que me atraiu para o projeto que está disponível na HBO Max -, o filme tem a marca das obras ligadas ao estúdio, como é o caso da trilha sonora pitoresca, da fotografia desbotada e de outras escolhas técnicas pouco óbvias, como os ângulos de câmera ostensivamente próximos e os detalhes cênicos criativos (seja uma proteção de celular, um componente dos figurinos ou um objeto qualquer que se sobressai). Sexy, suja, extravagante, debochada, a história é capaz de ir do histrionismo aleatório ao silêncio sepulcral em segundos - e sem se perder pelo caminho. Na trama, a protagonista é a Zola do título original (papel de Taylour Paige), que é convidada por Stefani (Riley Keough) para essa temporada no inferno do extremo sudeste dos Estados Unidos. À dupla se junta o submisso namorado de Stefani, Derrek (Nicholas Braun) e o violento cafetão X (Colman Domingo).
E o que começa como uma divertida viagem, com brincadeiras safadas dentro do carro, pouco a pouco avançará para uma vertiginosa narrativa tensa, de suspense, com o perigo podendo emergir de formas variadas. O caso é que Zola queria apenas dançar e ganhar dinheiro com isso. Exibir o corpo e arrancar uns trocados de uns perdedores que frequentam alguma boate decadente. Mas Stefani engana a protagonista. Bom, não apenas isso: cadastra ela e a si própria em um site de encontros, o que, não demora, atrai interessados (para desgosto de Zola). Só que como se livrar disso, uma vez que ela se sentirá aprisionada nesse microcosmo violento e ameaçador? A sua maneira, Zola vai se embrenhando por essa espiral, tentando achar uma brecha para o respiro. Com o espectador indo a tiracolo e sem saber direito o que pode acontecer no segundo seguinte.
Sim, talvez não seja assim tão criativo ou inovador - são muitos, afinal, os filmes nessa pegada que misturam Striptease (1996) com Se Beber Não Case (2009), com algumas boas pitadas de Tangerine (2015). Mas há alguns detalhes que adicionam personalidade ao projeto, como o uso constante dos barulhinhos de mensagens no Twitter (que podem até deixar alguns desavisados meio confusos), ou a opção por usar a "linguagem falada" mesmo quando esta retira uma boa dose de verossimilhança do roteiro. Talvez tenha faltado um pouco mais de contexto, com as nuances políticas, sociais e culturais da atualidade surgindo de forma tímida. No mais, é uma obra que tem intensidade mas que sabe recuar na hora certa, apostando ainda nas ótimas interpretações de todo o elenco - e as diversas nomeações no Independent Spirit Awards atestam a qualidade do projeto.
Nota: 7,5
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