segunda-feira, 18 de abril de 2022

Grandes Filmes Nacionais - O Que É isso, Companheiro?

De: Bruno Barreto. Com Alan Arkin, Fernanda Torres, Pedro Cardoso, Luiz Fernando Guimarães e Mathes Nachtergaele. Drama / Suspense, Brasil, 1997, 111 minutos.

"É um argumento dos aristocratas, esse dos crimes que uma revolução implica. Eles esquecem-se sempre dos que se cometiam em silêncio antes da revolução". Na semana em que áudios inéditos do Superior Tribunal Militar confirmam a prática de tortura durante a Ditadura Militar (1964-1985), a frase atribuída ao escritor francês Stendhal, reproduzida acima, parece ganhar ainda mais significado. Uma revolução, afinal, não se faz com palavras - ou "com luvas de seda", como dizia Stalin. Para o bem ou para o mal os eventos vistos no clássico moderno O Que É Isso, Companheiro? - adaptação de Bruno Barreto para o livro de Fernando Gabeira e que está disponível no Mubi - possuem essa dose de idealismo de que para combater governos autoritários é preciso pegar em armas e lutar. Durante os 21 anos de opressão no Brasil não são poucos os documentos que revelam abusos praticados por órgãos de repressão ligados ao exército e que violavam um sem fim de direitos humanos.

Não se tratavam apenas de violências físicas e psicológicas contra adversários políticos dos militares. Qualquer pessoa que se colocasse contra o regime, que os questionasse, especialmente a partir da promulgação do famigerado Ato Institucional Número 5 - decreto publicado em dezembro de 1968, durante o governo Costa e Silva - estava sujeito a ser preso e punido. Não havia mais espaço para protestos. A imprensa e os artistas sofriam censura. Dissidentes era punidos. Direitos políticos eram suspensos. Uma simples reunião com pauta política poderia não ser autorizada. Era a derrocada da democracia brasileira que, ao cabo, precisava ser, de alguma forma, parada. Que foi exatamente o que aconteceu quando um grupo de estudantes abraçou a causa e se aliou a luta armada - e a coletivos como o Movimentos Revolucionário Oito de Outubro (MR8) e a Ação Libertadora Nacional (ABL), grupos organizados e mais radicalizados, que operavam na base do "olho por olho e dente por dente".


Foi nesse cenário, já em 1969, que um grupo ligado a esses movimentos perpetrou um plano que visava libertar 15 presos políticos que estavam trancafiados nos porões da ditadura. A ação tinha o objetivo de sequestrar o embaixador dos Estados Unidos Charles Burke Elbrick (Alan Arkin), chamando a atenção do mundo para os abusos que vinham ocorrendo no Brasil. Liderados pelo guerrilheiro Jonas (Matheus Nachtergaele), o coletivo que mesclava estudantes, jornalistas e intelectuais, com líderes políticos de esquerda e outros revolucionários, elaborou a estratégia que conduziria a operação. No filme, toda a tensão envolvendo o momento político brasileiro é recriada por meio de um excelente desenho de produção e com uma fotografia levemente acinzentada, que acentua o sentimento de desolação permanente vivido naquele período. Ao cabo trata-se de uma experiência que funciona muito bem no limite entre o thriller policial e o drama político.

Já o elenco é um verdadeiro show a parte, com nomes como Fernanda Torres, Luiz Fernando Guimarães, Pedro Cardoso, Cláudia Abreu, Marco Ricca e Selton Mello interpretando papeis relevantes na trama - isso sem citar as participações especiais de Othon Bastos, Fernanda Montenegro, Alessandra Negrini, Milton Gonçalves, Eduardo Moscovis, Nelson Dantas e até Lulu Santos. O resultado de tanta grandiosidade seria não apenas uma experiência que ganharia projeção internacional, como ainda figuraria na cerimônia do Oscar de 1998 - sendo lembrado na categoria Filme em Língua Estrangeira. Em tempos tão beligerantes como os que vivemos, com parte da população sonhando de forma quase delirante com uma "intervenção militar", obras como O Que É Isso, Companheiro? servem para nos lembrar do quão dolorido é um governo ditatorial. Sim, em um cenário tão bizarro como o atual, o filme soa quase datado - e até excessivamente romântico em sua abordagem. Mas a trama - bem como a necessidade de questionar - segue atemporal.


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