quarta-feira, 20 de abril de 2022

Tesouros Cinéfilos - Los Angeles: Cidade Proibida (L.A. Confidential)

De: Curtis Hanson. Com Russel Crowe, Kevin Spacey, Guy Pearce, Kim Basinger, Danny DeVito e David Strathairn. Drama / Policial / Suspense, EUA, 1997, 138 minutos.

Policiais corruptos, redes de prostituição, imprensa sensacionalista, crimes misteriosos. Não é por acaso que Los Angeles: Cidade Proibida (L.A Confidential) parece uma grande homenagem aos filmes noir dos anos 50, já que os ingredientes estão todos lá. Dirigida por um Curtis Hanson no auge - é talvez o seu melhor trabalho - a trama é adaptada da obra de James Ellroy, tendo em seu DNA o espírito dos filmes de investigação típicos dos anos 90, daqueles que conduzem o espectador em uma espiral de eventos, muitos deles amparados em reviravoltas surpreendentes. Aqui, a cidade título é muito menos "angelical" do que se imagina que seja a capital mundial do cinema, de Hollywood. A cada possibilidade de diversão, de entretenimento, de encontro com estrelas há todo um submundo dominado por mafiosos, por tráfico, por investigadores de moral duvidosa, por assassinatos de difícil explicação - num tipo de ousadia meio coletiva, um atrevimento que se espalha pelas ruas, pelas calçadas, pelas frestas.

E é nesse complexo ecossistema que entrarão em rota de colisão três policiais que atuam na mesma divisão. O primeiro deles, o detetive Jack Vincennes (Kevin Spacey) é o sujeito corrompido que não tem vergonha de vender informações a céu aberto, sendo um de seus principais contatos um certo Sid Hudgens (Danny DeVito), proprietário do Hush Hush, uma espécie de pequeno tabloide que não resiste a uma capa sensacionalista (de preferência comprada). O segundo é o violento oficial Bud White (Russel Crowe), o tipo de sargento que não hesita em partir para a violência física na hora de obter informações de seus investigados. Entre os dois está o eticamente correto policial Edmund Exley (Guy Pearce) que, com seu cabelo sempre alinhadinho e seu óculos de nerd, tem a pretensão de moralizar uma instituição que parece atolada até o último fio de cabelo em negócios escusos. Isso sem contar a atuação tão violenta que beira o flerte com o fascismo.



E é justamente após uma ação policial truculenta contra um grupo de presos mexicanos, que o bicho pega. Após o acontecido sair na capa dos principais jornais - em mais um episódio desmoralizador para a polícia -, um dos envolvidos no incidente, no caso o policial prestes a se aposentar Dick Stensland (Graham Beckel), acaba morto em um bar no centro da cidade, ao lado de outros clientes, além de garçons e o gerente do local. Com poucas informações, o trio de investigadores tentará, cada um a sua maneira, obter as pistas que possam servir para que o quebra-cabeças possa ser montado. A chave para elucidar o mistério pode estar na elegante Lynn Bracken (Kim Basinger), que trabalha para uma rede de prostituição do submundo, que as converte em sósias de estrelas de Hollywood. Será por meio de Lynn que White chegará a um dos cabeças da rede de operação, um certo Pierce Patchett (David Strathairn), um investidor multimilionário que parece esconder uma série de segredos.

Sim, parece complexo. E talvez seja um pouco. São muitos personagens, idas e vindas, pistas sendo disponibilizadas aos poucos. Mas não deixa de ser absurdamente saboroso conferir um grupo de atores tão talentoso, destrinchando um roteiro tão afiado e tão repleto de diálogos inteligentes e virtuosos. É um deleite que é ampliado pelo charme noventista dos cenários - sejam os cubículos da delegacia, seja os pátios elegantes das casas -, que recriam o período de forma fervilhante, viva. Nesse sentido vale ficar atento aos detalhes, seja o nome de um filme que está em cartaz, seja um objeto cênico qualquer que possa dialogar de forma metafórica com aquilo que acompanhamos (como é o caso do arranha-céu absurdamente fálico que surge no decorrer da narrativa, em meio a mais uma das discussões envolvendo aqueles homens tão masculinizados). Talvez não fosse um fenômeno cultural chamado Titanic e esse clássico moderno teria tido mais "sorte" no Oscar de 1998. Restaram os prêmios de Roteiro Adaptado e Atriz Coadjuvante (para Basinger). O que não chega a ser pouco.


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