De: Stephen Chbosky. Com Ben Platt, Kaitlyn Dever, Amy Adams, Juliane Moore, Danny Pino e Colton Ryan. Drama / Musical, EUA, 2021, 138 minutos.
Quase duas horas e vinte que não voltam mais. É, pessoal, quem gosta de cinema, invariavelmente passará por isso. Mas o fato é que eu não consegui me conectar, praticamente em momento algum, com o musical Querido Evan Hansen (Dear Evan Hansen), uma das estreias da semana nos cinemas do País. E aqui, vale mencionar, que ser um musical não é necessariamente um problema. Um dos meus filmes preferidos da vida - o clássico Cantando na Chuva (1952) - é desse gênero que mistura teatralidade que se mescla com canções coreografadas. Só que obras do tipo só parecem funcionar se, efetivamente, nos importarmos com aqueles que estamos acompanhando. É preciso que haja algum laço. Algum acordo tácito. E, aqui, a gente fica meio naquele clima de "tanto faz como tanto fez". As intenções são boas - há importantes discussões sobre distúrbios psicológicos -, o arco narrativo central é interessante, mas lá pelas tantas a gente não vê a hora de que acabe. E o troço se arraaaaasta.
Aliás, eu não sei bem se é proposital, mas fico meio sem entender esse inchaço sofrido por algumas produções que, claramente, poderiam ter uns 40 minutos a menos. No caso do filme de Stephen Chbosky - diretor do queridinho alternativo As Vantagens de Ser Invisível (2012) e do tocante Extraordinário (2017) -, o terço final atinge quase o nível de tortura. Chega naquele ponto em que a gente já compreendeu o que aconteceu, não concordou com quase nada que tá rolando e tá achando um tanto esquisito o comportamento de quase uma dúzia de personagens envolvidos na história. A trama, diga-se, parte de um grande mal entendido, que se converte em uma inesperada oportunidade para o protagonista Evan Hansen (Ben Platt), que se aproveita do suicídio de um colega de classe, passando a fingir para todos ao redor que eles possuíam uma grande amizade/romance.
A grande sacada envolve uma carta que Evan havia escrito pra si próprio, a pedido de seu terapeuta - como parte do tratamento para o transtorno social. Só que antes de Connor (Colton Ryan) tirar a própria vida, ele roubou a carta das mãos de Evan, já que ela possuía um importante segredo envolvendo a irmã de Connor, Zoe (Kaitlyn Dever), por quem o jovem nutria uma secreta paixão. Sim, estamos diante do combo "gurizinho de olhar tristonho e com dificuldades de interagir socialmente, que se apaixona, não consegue lidar e sofre muito". E canta. Canta pra caramba. Fazendo cara de choro. E mantendo uma mentira que faz com que ele se aproxime dos pais de Connor (e da própria Zoe) Cynthia (Amy Adams) e Larry (Danny Pino), que acreditam que a proximidade entre Evan e o falecido filho possa revelar outros segredos deixados para trás pelo taciturno menino. Aliás, aqui um parêntese: Amy Adams, tá na hora de você ter uma conversa séria com o seu empresário já que Era Uma Vez Um Sonho (2020), A Mulher na Janela (2021) e agora essa "joia" aqui é pra acabar com qualquer carreira.
Em alguns fóruns, vi que a galera fala em "elenco carismático". Mas onde? A única figura que consegui nutrir algum tipo de simpatia foi a esforçada mãe de Evan, Heidi, interpretada por Juliane Moore com a sua habitual competência (e talvez até pinte uma nominação ao Oscar por isso). No mais, em meio a canções um tanto arrastadas - ainda que cheias de significados e simbolismos -, a trama ainda deixa uns furos, como no caso da completa falta de informação em um universo povoado pelas redes sociais. Ou pior, aquela cena em que uma grande revelação online é publicada no Insta e todos os celulares bipam ao mesmo tempo, num travelling inesperado, enquanto todas as pessoas recebem, em choque, alguma informação que não era aguardada. Tudo bem, é um filme, uma obra de arte, com licenças poéticas, mas não precisamos forçar tanto a barra. Em tempo, a canção The Anonymous Ones é absolutamente saborosa - aliás, a sequência em que ela é apresentada também é ótima -, e acrescenta alguns pontos ao filme. Aliás, a música provavelmente receberá indicação ao carecão dourado. Funcionará como uma espécie de prêmio de consolação, inegavelmente.
Nota: 3,5
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