terça-feira, 23 de novembro de 2021

Pitaquinho Musical - Adele (30)

Não chega a ser exatamente uma novidade: a dor de cotovelo costuma ser uma excelente matéria-prima para grandes canções - e ótimos discos. Só que o que Adele faz com 30, seu mais novo álbum, não é entregar seu coração em uma bandeja. É mais do que isso, já que ela esparrama suas vísceras para quem se aventurar pelas suas dolorosas e classudas composições. A britânica se separou do empresário Simon Konecki recentemente. E executa o seu ofício como forma de expiar as dores do divórcio. E talvez seja justamente por isso que o trabalho tenha gerado tanta identificação com o ouvinte, afinal de contas, quem nunca? Indo do R&B noventista (Cry Your Heart Out) ao neo-soul (Woman Like Me), com uma paradinha na nostalgia jazzística (My Little Love), a artista banha o registro de personalidade, sem que jamais transformar abusar da autoindulgência. Peça central do trabalho, To Be Loved é o verdadeiro grito de algo que parece entalado na goela, funcionando quase como um poema póstumo destinado ao filho Angelo (Já é hora de eu me enfrentar / Tudo que faço é sangrar em outra pessoa / Pintando paredes com todas as minhas lágrimas secretas / Enchendo quartos com todas as minhas esperanças e medos).


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