segunda-feira, 8 de novembro de 2021

Novidades em Streaming - Shiva Baby (Shiva Baby)

De Emma Seligman. Com Rachel Sennott, Polly Draper, Dianna Agron, Molly Gordon e Danny Deferrari. Drama / Comédia, EUA, 2020, 78 minutos.

Integrante do subgênero "reunião de família em que segredos e ressentimentos parecem prontos para vir à tona", Shiva Baby (Shiva Baby) é aquele tipo de produção pequena, econômica, mas extremamente eficiente. Aliás, é mais uma daquelas que prova não serem necessárias grandes estripulias para que se tenha um bom filme. A obra disponível na plataforma Mubi e dirigida pela estreante Emma Seligman - que anteriormente havia feito um premiado curta com a mesma temática -, se passa durante 24 horas do primeiro dia do shivá, que é aquele período de sete dias de luto que a comunidade judaica mantém quando morre alguém próximo. É nesse contexto que se desenrolará um encontro social após o enterro - aquele tipo de reunião em que parentes comiserativos conversam amenidades, enquanto, ao menos nesse caso, chafurdam em mesquinharias.

Na realidade pouco importa, de fato, quem morreu. Aliás, esta é uma das tantas piadas feitas a partir do excesso de zelo do povo judeu, em meio às conservadoras convenções que regem o luto: ao chegar no shivá, a protagonista Danielle (Rachel Sennott) não esconderá o desgosto ao encontrar seus familiares, especialmente sua afetada mãe Debbie (Polly Draper). É para ela que perguntará insistentemente sobre quem teria morrido - no caso, alguma prima da vó ou algo do tipo (o que denunciará essa predileção por cerimônias ritualísticas do gênero). Com uma vida dupla, Danielle é universitária que mente para sua família sobre ter um trabalho como babá de uma família (enquanto é mantida pela sua própria). Mas, na realidade, se prostitui, tendo suas contas pagas por sugar daddies aleatórios - caso de Max (Danny Deferrari) que, não bastasse ser casado, ainda tem uma filha.

Aliás, se esconder esse amontoado de segredos de sua família já seria um problema, Danielle ainda encontra Max no shivá - ele está acompanhado de sua bela esposa Kim (Dianna Agron) e de sua filha bebê. O que faz com que tenha início uma espécie de pequeno jogo de "gato e rato" entre os dois, em que ambos parecem prontos a revelar o segredo do outro (e as trocas de olhares acusatórios entre ambos são não menos do que ótimas). Em meio a tias e vizinhas idosas curiosas sobre os "namoradinhos", Danielle encontra a parente distante Maya (Molly Gordon) - e a aparente frieza e distanciamento entre as duas é quebrada quando percebemos que a relação das garotas é mais profunda do que sugere as poucas trocas de palavras. É tudo ao mesmo tempo tenso e divertido, com uma ótima fluência - sensação ampliada pela metragem do filme, que não alcança os 80 minutos.

Teatral, a obra se vale de seus engenhosos e criativos diálogos para discutir temas variados, como, empoderamento feminino, relações de trabalho modernas, sexualidade e hipocrisia da sociedade. Se passando praticamente toda no mesmo ambiente, a trama reforça o aspecto claustrofóbico decorrido do clima de confinamento - e não é por acaso que, em uma sequência, Danielle se sente tão à vontade pelo simples fato de ir ao banheiro. Com uma hipnótica trilha sonora - cheia de notas claudicantes, trôpegas - e bom uso das rimas visuais (há uma sequência em que as pessoas surgem se alimentando de forma animalesca, como forma de evidenciar um ímpeto quase canibalesco de comportamento), Shiva Baby é uma obra enxuta, rápida e feita sob medida para quem aprecia filmes como o clássico O Anjo Exterminador (1962), de Luis Buñuel, ou Deus da Carnificina (2011), de Roman Polanski. Ainda que este mantenha a esperança mais em alta - mas sem abrir mão da vergonha alheia como matéria-prima.

Nota: 8,0

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