sexta-feira, 24 de setembro de 2021

Foi Um Disco Que Passou em Minha Vida - Nirvana (Nevermind)

He's the one
Who likes all our pretty songs
And he likes to sing along
And he likes to shoot his gun
But he don't know what it means
Don't know what it means
And I say, yeah

(In Bloom - Nirvana)

Eu tinha dez anos quando o Nevermind, do Nirvana, foi lançado. Dez. E apesar de já gostar de muito de música - os Beatles já eram uma paixão herdada, como relatei neste texto - demorei um bom tempo para perceber a grandeza daquilo que havia concebido Kurt Cobain, Krist Novoselic e Dave Grohl há exatos 30 anos. E talvez até hoje ainda não compreenda direito - especialmente quando ouço os acordes iniciais de Come As You Are em alguma rádio alternativa aleatória, que parece encravada em uma época que não volta mais. Aliás, uma época em que o rock talvez ainda fosse algo relevante. Foi bem mais tarde que eu fui prestar atenção no famoso disco da capa do bebê pelado perseguindo uma nota de dinheiro. O ensino médio já avançava. Entre uma partida de futebol na escola e a persistência em concluir algum jogo da franquia Streets Of Rage do Mega Drive, fui seduzido pelas imagens do clipe de In Bloom que, sinceramente, eu nem lembro direito de como foram parar na nossa televisão. Algum programa de variedades? Uma semi-embrionária MTV?

Sinceramente até hoje não sei. Existem memórias da nossa juventude que simplesmente se perdem por mais que tentemos evocá-las. Há algum instante meio nebuloso e nostálgico em que alguma coisa acontece mas nunca conseguimos materializa-la de forma palpável. É algo meio abstrato. Tão abstrato quanto assistir a uma banda de rock em um clipe em preto e branco, como se fosse em um programa de variedades, um vocalista loiro com óculos de nerd, todos de terninho cafona, um palquinho meio teatral (que mais tarde seria devastado naquela mistura sombria em caótica), uma guitarra pesada e bem arranjada, uma bateria bem pontuada, um refrão gutural e grudento. Sério, aquilo me fisgou. Eu precisava saber mais sobre essa música, sobre essa letra, sobre esses caras. Lembro que até obter minha edição do Nevermind em vinil - um dos poucos que preservo em minha modesta coleção, mesmo sem ter aparelho de som para ouvi-lo -, foi uma antiga cópia em K7 que movimentaria minhas tardes. Com In Bloom no talo. E todo o resto.

É claro que a fita acabou sendo a porta de entrada tardia para o meu mergulho no grunge - o que transformaria aquele adolescente magrelo de 1997 no excêntrico sujeito que usava uma camiseta xadrez AMARELA  e um All Star surrado. A tiracolo, a nova obsessão se tornaria obter alguns álbuns do Pearl Jam, do Alice In Chains, do Stone Temple Pilots e do Soundgarden (esse último também já devidamente homenageado nesse quadro tão subjetivo). Aliás, sobre o Pearl Jam, um parênteses: um dia ainda relatarei por aqui a EPOPEIA que foi obter o disco Ten, quase ao final dos anos 90. E a emoção que foi tê-lo em mãos pela primeira vez. Assim, nessa época, foi que o "pessoal de Seattle" se tornou parte da minha companhia oficial. Com o Nirvana sempre à frente, numa espécie de obsessão permanente, que tornaria até o Foo Fighters uma das bandas do coração por muito tempo. Como se a onipresença de Dave Grohl fosse capaz de garantir a manutenção do legado do próprio Kurt. Vai saber.

Hoje é o dia em que, de forma justa, os sites especializados em música prestarão a sua homenagem a esse disco que, talvez junto com o Ok Computer do Radiohead forme os dois grandes pontos de ruptura em matéria de rock noventista. Analisarão a importância de Butch Vig na produção e a evolução do coletivo - que inicialmente contava ainda com Pat Smear -, até chegar ao refinamento melódico que encontraríamos em Nevermind. E em canções como Lithium, Polly, Smells Like Teen Spirit, On A Plain e as já citadas Come As You Are e In Bloon. Todas, contra qualquer previsibilidade, hits radiofônicos. Todas nostalgicamente saborosas. Religiosamente ouvidas. Todas com suas letras viscerais e enigmáticas - repletas de metáforas sobre amadurecimento, Deus, violência, amizades, excitações e tristezas juvenis. Sim, hoje é dia de tudo isso para todos as páginas que se dedicam à música - e até para quem não sabe escrever sobre o tema, mas se mete, que é o nosso caso. Porque, aqui entre nós, todo o dia é dia de Nevermind. E isso nem sempre é algo fácil de descrever.

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