terça-feira, 28 de setembro de 2021

Novidades em Streaming - Caminhos da Memória (Reminiscence)

De: Lisa Joy. Com Hugh Jackman, Rebecca Ferguson, Thandie Newton e Angela Sarafyan. Ficção Científica / Policial, EUA, 2021, 116 minutos.

Tive dois sentimentos distintos assistindo a esse Caminhos da Memória (Reminiscence), novidade da semana no HBO Max e no Now. Como fã de ficção científica mais existencialista fiquei fascinado com a primeira parte - mais precisamente o primeiro terço - da obra dirigida por Lisa Joy (que dirigiu epísódios de Westworld). Especialmente pelo fato desta etapa apostar muito menos na ação e muito mais na abordagem sensorial do mistério que envolve a trama. E, sim, sei que cada pessoa vive a experiência de um filme a partir da sua bagagem e da sua subjetividade. Então quando me vi assistindo a uma narrativa futurista, em uma Miami de visual impressionante (tomada pela água, resultado da péssima política ambiental) em que um sujeito trabalha em uma empresa que tem como principal virtude evocar memórias de seus clientes, eu abri um sorriso. Acreditava que o filme abriria um vasto espaço para divagações, para reflexões metafísicas sobre lembranças, sobre saudades, sobre nostalgia, sobre formas de manter registros antes que estes desvaneçam.

E, inicialmente, é o que vemos. Na apresentação da forma de atuação dessa empresa - em que Nick (Hugh Jackman) e Emily (Thandie Newton) são sócios -, os clientes que os procuram vêm com a intenção de recuperar lembranças queridas, instantes sublimes, sejam eles encontros com parentes que partiram ou momentos de inadiável alegria. Aliás, não há muita explicação sobre o funcionamento do sistema como um todo, que utiliza um equipamento repleto de eletrodos, que parece reconhecer sinapses cerebrais que formarão a imagem desejada, com o usuário utilizando uma espécie de banheira (a condução da água certamente tem a ver com o processo) - um maquinário, por sinal, que faz lembrar a invenção vista na assombrosa obra literária Recursão, do escritor Blake Crouch. Só que tudo muda de figura quando a misteriosa Mae (a belíssima Rebecca Ferguson) procurar os serviços de Nick e Emily. Só que Nick não apenas se apaixona pela jovem, uma cantora enigmática: ele se torna completamente obcecado por ela.

Só que o problema é que ela some. Simplesmente desaparece. Após um rápido affair com Nick. Uma e outra investigação paralela fará com que o protagonista perceba que Mae pode ter conexões com o crime organizado. Pior, talvez ela tenha utilizado Nick como uma espécie de bode expiatório para a obtenção de informações que beneficiassem um grupo de mafiosos. E, a meu ver, é justamente quando a trama vai pro lado mais policialesco - com perseguições, tiros, discussões, bandidos estereotipados, lugares abandonados e outros clichês -, que o filme se transforma em um exemplar apenas genérico de ação. No caso, é desperdiçada uma grande oportunidade de se discutir com mais profundidade o ônus e o bônus de um equipamento capaz de fazer com que "revivamos" memórias - imaginem o poder que este conhecimento não poderia ter na mão e governos ou de outras instituições -, para se apostar na traminha corre-corre, de edição frenética, uso de câmera lenta aleatório e pouca inspiração. Aliás, pasmem: em um momento, um dos vilões tentará afogar Nick em um aquário (!). Sendo salvo por um tiro na estrutura, o que despejará toda a água, claro.

Ok, eu tenho consciência de que muito provavelmente o problema seja eu, que espero maior profundidade onde os produtores, diretores e demais envolvidos querem apenas que o público se divirta. E é isso que uma obra de ação costuma fazer. Sem necessariamente aprofundar contextos políticos, sociais, culturais e até quânticos. Mas admito que fiquei mal acostumado com ficções científicas mais "pensantes", casos de A Chegada (2016), Ex-Machina: Instinto Artifical (2015), Ela (2013) ou A Origem (2010). Ainda assim há que se reconhecer os méritos técnicos da obra, caso da belíssima fotografia, que transforma Miami em uma metrópole de contrastes, com os mais ricos vivendo em pontos mais secos do que os mais pobres. O mesmo vale para o desenho de produção, não menos do que magnífico, com prédios e outras construções literalmente "brotando" da água. Mas é só. Jackman, Newton e Ferguson se esforçam para entregar algo que comova um pouco mais. Que vá para além do movimento pelo movimento. Mas quando acaba é apenas isso: acaba. O que me parece uma pena.

Nota: 4,5

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