Esse álbum, pra quem não sabe, foi um dos responsáveis por formatar a minha amizade com o Henrique Oliveira, que escreve o Picanha junto comigo. Há 25 anos atrás, época em que o disco foi lançado, havia uma prática comum, que talvez surpreenda os jovens de hoje em dia: a de trocar discos. Emprestar ao outro. Com prazo especificado de devolução, em um tipo e equação que tornava inversamente proporcional a urgência dessa mesma devolução quanto mais raro fosse o disco. E conseguir uma edição do Grand Prix não era pra todo mundo. Era um álbum importado, que constava em tudo quanto é lista de melhores - como no caso daquelas que apareciam na finada Revista Bizz -, e que custava, mesmo naquela época, a bagatela de uns 80 reais (o que convertendo para hoje em dia seria facilmente uns R$ 400 em um disco). Então vejam só que grande sinal de amizade, quando o Henrique me emprestou este disco e, bom, só posso dizer que foram algumas tardes gastando-o na vitrola, enquanto lia o encarte, com as letras.
Eu tô falando desse disco em um texto meio sem lógica por aqui - como costumam ser os desse quadro -, porque o Grand Prix é aquele tipo de álbum do veraneio. Trata-se de um registro acolhedor, primaveril, cheio de canções e de refrões enérgicos, que consolidada o trio Glasgow como um dos principais expoentes do power pop no mundo. Até este trabalho foram outros três discos - A Catholic Education (1990), Banwagonesque (1991) e Thirteen (1993) - e salvo um ou outro instante de euforia em cada um deles, foram obras muito mais marcadas pelo shoegaze e pelo deboche universitário, que os fazia cantar olhando os próprios pés. Sim, os fãs raiz do Teenage Fanclub talvez citem o Bandwagonesque e sua capinha à moda videogame com uma sacolinha de dinheiro e suas letras sobre usar jeans descompromissadamente como sua principal influência juvenil. Mas aquela melodia sinuosa, quente, com algum toquinho de psicodelia, que juntou The Byrds com Big Star numa coisa só, chacoalhou no liquidificador, e entregou ao mundo um creme saboroso de música adocicada, foi somente no disquinho com o carro de fórmula 1 estampado na capa.
Em uma entrevista, certa feita, o baixista Gerard Love disse, sobre o Grand Prix, que não era "música para quando você está prestes a sair e sim para quando você voltar". Nesse sentido é a música que acalma e aconchega. É aquela em que nos sentimos familiarizados - ainda que mantenha, é preciso que se diga, a verve roqueira. É mais ou menos como na abertura, com About You em que Norman Blake canta a plenos pulmões, amparado por Love e Raymond McGinley, que "sempre soube o caminho até você". É um tipo de bobice tão elementar, que é repetido em gemas como I'll Make It Clear (Eu vou deixar claro / Eu te amo querida), Going Places (Tenho a noção / Que essa chuva não vai durar) e Sparky's Dream (Preciso de uma bola de cristal para enxergá-la de manhã / E olhos mágicos para ler nas entrelinhas), que nos fazem manter o sorriso necessário, especialmente em tempos delicados. O Teenage Fanclub anda meio parado agora. Mas o que ele fez com Grand Prix não se apaga, o que torna um disco quase necessário para tempos tão sombrios.
Nenhum comentário:
Postar um comentário