terça-feira, 30 de julho de 2019

Novidades em DVD - Clímax (Clímax)

De: Gaspar Noé. Com Sofia Boutella, Adrien Sissoko e Giselle Palmer. Drama / Suspense / Terror, França, 2018, 95 minutos.

Existe uma frase dita em tom de deboche pelos cinéfilos que se aplica bem a filmografia do diretor Gaspar Noé: "são ótimos filmes, não indico pra ninguém". A gente sabe, não é presunção ou petulância, mas existem obras que não são para todos os paladares e Climax (Climax), assim como ocorreu com Irreversível (2002) e Love (2015), é um desses. Trata-se de um filme nervoso, barulhento, com uma frequência frenética, uma angústia (e uma sensação de transe) que aumenta. Tem pessoas saindo de si, angustiadas, chorando e gritando, num microcosmo que parece resumir bem o que é a nossa sociedade, na atualidade: um amontoado de gente com algumas coisas em comum, outras nem tanto, mas que parece, na fachada de uma suposta cordialidade, manter preservado o seu instinto animalesco e violento, pronto a dar as caras a partir de algum tipo de gatilho.

É um filme até meio difícil de explicar. Algo estranho. Os créditos iniciais, por exemplo, surgem quando a obra já avança para mais de uma hora. O tipo de quebra de lógica, de andamento, que ocorre o tempo todo, seja na justaposição das cores, na inclusão da trilha sonora ostensiva, nos enquadramentos oblíquos, nas sombras fantasmagóricas. Sabe aquela película que incomoda? É essa. Na trama, um grupo de dançarinos de algum tipo de dança urbana dos anos 90 se reúne para um intensivão de ensaios em uma casa isolada, no meio do nada, em lugar indefinido. Na última noite, o que começa como uma rodada animada de danças, de conversas descontraídas e de bebedeiras, vai aos poucos dando lugar a esquizofrenia, a beligerância e a loucura. É como se os personagens de O Anjo Exterminador (1962), de Luiz Buñuel, fossem repaginados para a modernidade, bebendo muito e enlouquecendo.


Em meio ao debate sobre temas que são tabu na sociedade - homossexualidade, uso de drogas, sexo anal -, muita dança bem coreografada, sexy, intensa. A dança em si funcionando como projeção da catarse dos corpos, como se a esta fosse por si só algo subversiva, provocadora, iconoclasta. A gente percebe que cada sujeito mantém a sua individualidade, mas no coletivo todo o mundo se assemelha em sua paranoia que cresce, quando o grupo começa a ter a impressão de que algum de seus integrantes possa estar drogando, deliberadamente, os demais. Isso não fica claro em momento algum da projeção, mas quando esse ideia começa a tomar forma a espiral decadente cresce, que transforma o filme em um grande videoclipe da catástrofe, com a câmera vagando pelos ambientes, flagrando confrontos, atos sexuais, discussões e episódios de mal-estar e outros incômodos envolvendo aqueles que assistimos.

Utilizando ainda a obra como um amplo exercício de estilo - perceba como as cores vão ficando mais intensamente vermelhas, conforme a sensação de terror de de paranoia aumentam, assim como a fotografia vai ganhando tons mais sombrios, com cores difusas, pálidas, confusas -, Noé ainda deixa o final em aberto, fazendo com que acompanhemos toda a loucura como se fôssemos o sujeito sóbrio do ambiente, com nossos olhos julgadores, prontos para apontar o dedo para alguém. Com trilha sonora de nomes como Aphex Twin, Giorgio Moroder, Soft Cell e Gary Numan, além de outros da música eletrônica e urbana, Clímax é a experiência caótica por excelência. Um filme sem lógica, imprevisível e pronto para sair do controle, assim como é a vida, sem roteiro, eventualmente inconsequente, mas pronta para um dia seguinte. De sol. E de luz.

Nota: 7,0


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